FEBEAPA
Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo do
jornalista Sérgio Porto, cunhou de maneira indelével no imaginário brasileiro o
termo FEBEAPÁ − Festival de Besteiras que Assola o País. Em plena época da
ditadura - e burlando de modo romancesco a censura que então reinava − ele
conseguiu reunir em sua obra as mais variadas pérolas do jornalismo brasileiro.
Era o IV Centenário do Rio e, apesar
da penúria, o Governo da Guanabara ia oferecer à plebe ignara o maior bolo do
mundo. Sugestão do poeta Carlos Drummond de Andrade, quando soube que o bolo ia
ter 5 metros
de altura, 5 toneladas, 250 quilos de açúcar, 4 mil ovos e 12 litros de rum: “Bota
mais rum”.
Abril, mês que marcava o primeiro aniversário
da “redentora”, marcou também uma bruta espinafração do Juiz Whitaker da Cunha
no Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, que enviara seis ofícios ao
magistrado e, em todos os seis, chamava-o de “meretríssimo”. Na sua bronca o
juiz dizia que “meretíssimo” vem de mérito e “meretríssimo” vem de uma coisa
sem mérito nenhum”.
Quando se desenhou a perspectiva de
uma seca no interior cearense, as autoridades dirigiram uma circular aos
prefeitos, solicitando informações sobre a situação local depois da passagem do
equinócio. Um prefeito enviou a seguinte resposta, à circular: “Doutor
Equinócio ainda não passou por aqui. Se chegar será recebido como amigo, com
foguetes, passeata e festas.”
No nordeste de Minas a cidade de
Itaboim, que fica à beira da estrada Rio-Bahia, viria para o noticiário depois
que o prefeito local plantou lindas e tenras palmeiras para enfeitar a estrada,
e a Oposição − com inveja − soltou 100 cabritos de madrugada, que jantaram as
palmeiras.
Até o DASP, repartição criada para
cuidar dos quadros de servidores da Nação, consumindo para isso bilhões de
cruzeiros anualmente, nomeava para a coletoria de São Bento do Sul dois
funcionários que já tinham morrido havia anos. Em compensação, para chefiar seus
próprios serviços em
Santa Catarina , o DASP nomeava um coitado que estava
aposentado há três anos, internado num hospício de Florianópolis.
Foi então que estreou no Teatro
Municipal de São Paulo a peça clássica “Electra”, tendo comparecido ao local
alguns agentes do DOPS para prender Sófocles, autor da peça e acusado de
subversão, mas já falecido em 406
a .C.
Nas prefeituras municipais é que o
Festival se espraiava com maior desembaraço: o prefeito Tassara Moreira, de
Friburgo (RJ), inaugurava um bordel na cidade “para incentivar o turismo”.
Julho começava com a adesão do Banco
Central à burrice vigente, baixando uma circular, relativa ao registro de
pessoas físicas, na qual explicava: “Os parentes consanguíneos de um dos
cônjuges são parentes por afinidade do outro; os parentes por afinidade de um
dos cônjuges não são parentes do outro cônjuge; são também parentes por
afinidade da pessoa, além dos parentes consanguíneos de seu cônjuge, os
cônjuges de seus próprios parentes consanguíneos”.
Em Campos ocorria um fato espantoso:
a Associação Comercial da cidade organizou um júri simbólico de Adolh Hitler,
sob o patrocínio do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito. Ao final do
julgamento Hitler foi absolvido.
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