segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Carmen Figuratum


Carmen Figuatum denominava para os latinos o que technopaignion denominava para os gregos: qualquer composição poética em que a disposição gráfica do texto acompanha a forma do sujeito a que ele se refere.


Fagundes Varela (1841-1875), poeta romântico com todas as mazelas próprias do movimento, foi, porém, autor de alguns (poucos) belos poemas, entre os quais sobreleva o seguinte carmen figuratum:


Estrelas
singelas,
luzeiros,
fagueiros
esplêndidos orbes, que o mundo aclarais!
Desertos  e  mares  −  florestas  vivazes!
Montanhas  audazes  que o céu topetais!
Abismos
profundos,
cavernas
externas,
extensos,
imensos
espaços
a z u i s!
Altares e tronos,
humildes e sábios, soberbos e grandes!
Dobrai-vos  ao  vulto sublime da cruz!
Só ela nos mostra da glória o caminho,
Só  ela  nos  fala  das  leis  de  Jesus!

A forma e o conteúdo
  
O poema seguinte, “A taça”, é de Hermes Fontes e foi publicado em seu livro Apoteose, de 1908:

  A taça
  
Pouco acima daquela alvíssima coluna
que é o seu pescoço, a boca é-lhe uma taça tal
que, vendo-a, ou, vendo-a, sem, na realidade, a ver,
de espaço a espaço, o céu da boca se me enfuna
de beijos – uns, sutis, em diáfano cristal
lapidados na oficina do meu Ser;
outros – hóstias ideais dos meus anseios,
e todos cheios, todos cheios
do meu infinito amor...
Taça
que encerra
por
suma graça
tudo que a terra
de bom
produz!
Boca!
o dom
possuis
de pores
a minha boca!
taça
de astros e flores,
na qual
esvoaça
meu ideal!
Taça cuja embriaguez
na via-láctea do sonho ao céu conduz!
Que me enlouqueças mais... e, a mais e mais, me dês
o teu delírio... a tua chama... a tua luz...


Hermes Fontes

(1888-1930)

Hermes Floro Bartolomeu Martins de Araújo Fontes (Buquim, Sergipe, 28 de agosto de 1888 – Rio de Janeiro, a 25 de dezembro de 1930) foi um compositor e poeta brasileiro.

Fundou o jornal Estreia, com Júlio Surkhow e Armando Mota, em 1904, no Rio de Janeiro. Formou-se bacharel em direito em 1911, mas não exerceu a profissão. De 1903 ao final da década de 1930 colaborou em periódicos como os jornais Fluminense, Rua do Ouvidor, Imparcial, Folha do Dia, Correio Paulistano, Diário de Notícias e as revistas Careta, Fon-Fon!, Tribuna, Tagarela, Atlântida, entre outras. Foi também caricaturista do jornal O Bibliógrafo. No período, trabalhou como funcionário dos Correios e oficial de gabinete do ministro da Viação.

Em 1913 publicou seu primeiro livro de poesia, Gênese. Seguiram-se Ciclo da Perfeição (1914), Miragem do Deserto (1917), Microcosmo (1919), A Lâmpada Velada (1922) e A Fonte da Mata... (1930), entre outros. A poesia de Hermes Fontes é de estética simbolista.

Fonte da biografia: Wikipédia

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