segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Alma Gaudéria


Rui Cardoso Nunes


Os rastreadores da História
campearam minha memória,
do tempo nas noites grandes,
e me encontraram na Taba,
nos araxás do ameraba
da cordilheira dos Andes!

Dos séculos na densa bruma,
a minha origem se esfuma!
Sou alma xucra e gaudéria
que vem de tempos sem fim!
Ninguém sabe de onde eu vim,
se de Atlântida ou Sibéria!

Talvez fosse um lemuriano,
guardasse n'alma o arcano
da legendária Lemúria -
minha primeira Querência,
tragada pela violência
de cataclismos em fúria!

Talvez malaio, australiano,
ou mongol, ou tasmaniano,
antes de vir para a América!
Sou, hoje, o guasca sulino
mestiço com beduíno
lá da Península Ibérica!

Sou mescla de vários sangues!
Dos temidos Caingangues
sinto a fibra em minha raça!
Destas coxilhas sou filho,
cruza de branco caudilho
com ameríndia lindaça!

Fui Charrua e Minuano!
Enfrentei o lusitano
nos campos de Caiboaté!
Na região missioneira,
iluminei a fronteira
nas guerrilhas de Sepé!

Fui guerreiro, andei lutando...
Surgi mil vezes peleando,
mil vezes tombei na guerra,
eternizando na história,
numa legenda de glória,
as tribos de minha Terra!

Marquei, com sangue estrangeiro,
deste Torrão Brasileiro
as fronteiras que ele tem!
E nelas, qual marco vivo,
deixei meu sangue nativo,
as demarcando também!

E se alguém, num dia aziago,
quiser tomar este pago,
ser das coxilhas monarca,
há de sentir pelo lombo,
no impacto de cada tombo,
que nossa Terra tem marca!


Rui Cardoso Nunes (São Francisco de Paula, 25 de março de 1919  Porto Alegre, 8 de julho de 2009) foi jornalista, poeta e escritor.

Nascido na Fazenda do Chapéu, no atual município de Jaquirana, antigo distrito de São Francisco de Paula, também era jornalista, ensaísta e dicionarista. Ainda jovem, veio para a Capital, onde começou a trabalhar em jornal. Não demorou para começar a escrever poesias, um talento que já demonstrava quando criança. Entre tantos poemas que escreveu, seu preferido era Lança Farrapa, que fazia questão de sempre incluir nas antologias publicadas com sua obra. Dedicado ao tradicionalismo, participou da criação do CTG 35, na Capital. Foi o acadêmico que por mais tempo ocupou sua cadeira na Academia Rio-Grandense de Letras (mais de 50 anos). Como Secretário Geral da entidade, ajudou na conquista da sede da Academia Rio-Grandense de Letras, na Rua dos Andradas.

Publicou diversos livros de poesia. Na área de folclore, publicou com Zeno Cardoso Nunes, o Dicionário de Regionalismos do Rio Grande do Sul, em 1997 e o Minidicionário Guasca, em 1994, além de ensaios e artigos em revistas e jornais.






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