Blaise Pascal
(1623-1662)
Fazei, meu Deus, que, com o mesmo
ânimo, eu receba toda sorte de acontecimentos, uma vez que não me é dado saber
o que devemos pedir, e não posso desejar uma coisa de preferência a outra sem
presunção e sem me tornar juiz e responsável das conseqüências que vossa
sabedoria quis justamente me ocultar.
Senhor, eu apenas sei que é bom
seguir-vos e mau ofender-vos. Além disto, não sei qual o melhor nem o pior; não
sei o que me seja mais vantajoso: a saúde ou a moléstia; bens de fortuna ou
pobreza. É um discernimento que excede as forças dos homens e dos anjos e que
se acha oculto nos segredos de vossa providência, que adoro e cujos desígnios
não quero sondar.
(Tradução do Prof.
Júlio Nogueira)
Somente tu sabes o que me é conveniente. És
meu Mestre soberano. Opera em mim conforme a tua vontade. Concede-me, ou toma
de mim, de acordo com teu intento, não o meu. Sei apenas, Senhor, que devo
seguir-te e não te ofender.
Ademais, não sei o que é bom ou ruim.
Não sei o que me é propício, saúde ou doença, riqueza ou pobreza, nem qualquer
outra coisa deste mundo.
Pensamentos de Blaise Pascal
O coração tem razões
que a razão desconhece. Sente-se isso em mil coisas. É o coração que sente Deus
e não a razão. Eis o que é a fé: Deus sensível ao coração e não à razão.
A religião não é
absolutamente contrária à razão.
Esforcem-se para se convencerem da existência de Deus não por argumentação, mas pela diminuição de suas paixões carnais.
Por serem bastante infelizes, devemos mostrar piedade para com os que não querem ou não conseguem crer.
Não há nada tão
conforme a razão do que a retratação da razão.
Não é de se admirar ver pessoas simples crerem sem raciocínio. Deus lhes dá o amor a ele, e o ódio a si mesmas.
Dizem que somos incapazes de conhecer se existe mesmo um Deus.
Entretanto, o certo é que Deus existe ou não existe. Não há meio termo nessa
questão.
O homem é naturalmente crédulo e incrédulo, tímido e temerário.
Não tire de seu aprendizado a conclusão de que você sabe tudo, mas sim
a certeza de que ainda resta muito a saber.
Se Deus se descobrisse mais continuamente, não haveria mérito em
acreditar nele. Se ele não se descobrisse, não haveria nem um pouco de fé. Mas
ele se esconde constantemente e se descobre raramente para aqueles que desejam
se colocar ao seu serviço.
Não tenho palavras para qualificar aquele que duvida e não corre atrás
da certeza, aquele que, ao mesmo tempo, é sumamente infeliz e injusto, e ainda
se sente tranquilo e satisfeito e se vangloria disso tudo.
É uma estranha
inversão a sensibilidade do homem às pequenas coisas e a insensibilidade dele
às grandes coisas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário