segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Cenas escandalosas



As esposas dos embaixadores residentes em Washington estão pasmadas e as altas camadas sociais estão indignadas com o baile oferecido ultimamente pela senhora do milionário Roberto Patterson por motivo do casamento de uma sua filha.

Há um geral movimento de repulsa à moda que se vai generalizando nos salões aristocráticos, de serem executadas certas danças de caráter essencialmente imoral.

De agora em diante, toda a senhora que quiser ver em sua casa os embaixadores, suas esposas e as famílias dos chamados círculos exclusivos deverá abolir completamente as danças frívolas; aquela que não o fizer será boicotada socialmente.

As esposas dos embaixadores da Alemanha, da Áustria, da Itália, da Inglaterra e da Rússia, contaram, de uma voz, aos repórteres dos jornais, que nunca, em dias de sua vida, haviam assistido cenas mais escandalosas do que as que se deram no baile da casa Patterson.

A jovem e bela esposa de um deputado trajava um vestido - se é que pode chamar tal vestuário um vestido - de seda transparente e fina como teias de aranha, o qual deixava delineadas todas as formas do corpo. Em certa ocasião, dançando com um jovem, fumava ela um cigarro e agarrava se com tal força ao corpo do seu par que parecia antes um náufrago, seguro à tábua de salvação e prestes a soçobrar; seu corpo esbelto e flexível fazia trejeitos e requebros, que impeliam o rubor ao rosto das moças e obrigavam as mães a abrir os leques e com eles tapar o rosto.

Está verificado, também, que um mês apenas antes desse baile, a senhorita Taft, filha do presidente da grande república americana, havia dançado em um sarau dado na Casa Branca, a dança do peru; mas é preciso, entretanto, reconhecer que há dançar e dançar; a senhorita Taft, segundo afirmam testemunhas oculares, soube dar um forma mais casta às ondulações e movimentos que constituem o verdadeiro segredo da popularidade da dança do peru...

Esta notícia que traduzimos do jornal alemão Das Echo, nos veio explicar, de alguma forma, o escândalo que se deu no baile oferecido ultimamente na capital federal, ao Sr. Ministro da Agricultura.

O espírito de imitação, tão comum em nosso povo, é quase uma lei quando se trata de seguir exemplos da Grande República.

Foi por isso que o maxixe, do qual a dança do peru parece ser digno êmulo, foi introduzido nas rodas aristocráticas da capital do nosso país.

Felizmente, achamos como dividir a responsabilidade que nos podia caber por esse escândalo social.

Da seção Bagatelas, Correio do Povo, 20 de julho de 1912.


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