As esposas dos embaixadores
residentes em Washington estão pasmadas e as altas camadas sociais estão
indignadas com o baile oferecido ultimamente pela senhora do milionário Roberto
Patterson por motivo do casamento de uma sua filha.
Há um geral movimento de repulsa à
moda que se vai generalizando nos salões aristocráticos, de serem executadas
certas danças de caráter essencialmente imoral.
De agora em diante, toda a senhora
que quiser ver em sua casa os embaixadores, suas esposas e as famílias dos
chamados círculos exclusivos deverá abolir completamente as danças frívolas;
aquela que não o fizer será boicotada socialmente.
As esposas dos embaixadores da
Alemanha, da Áustria, da Itália, da Inglaterra e da Rússia, contaram, de uma
voz, aos repórteres dos jornais, que nunca, em dias de sua vida, haviam
assistido cenas mais escandalosas do que as que se deram no baile da casa
Patterson.
A jovem e bela esposa de um deputado trajava um vestido - se é que pode chamar tal vestuário um vestido - de seda transparente e fina como teias de aranha, o qual deixava delineadas todas as formas do corpo. Em certa ocasião, dançando com um jovem, fumava ela um cigarro e agarrava se com tal força ao corpo do seu par que parecia antes um náufrago, seguro à tábua de salvação e prestes a soçobrar; seu corpo esbelto e flexível fazia trejeitos e requebros, que impeliam o rubor ao rosto das moças e obrigavam as mães a abrir os leques e com eles tapar o rosto.
Está verificado, também, que um mês
apenas antes desse baile, a senhorita Taft, filha do presidente da grande república
americana, havia dançado em um sarau dado na Casa Branca, a dança do peru; mas
é preciso, entretanto, reconhecer que há dançar e dançar; a senhorita Taft,
segundo afirmam testemunhas oculares, soube dar um forma mais casta às ondulações
e movimentos que constituem o verdadeiro segredo da popularidade da dança do
peru...
Esta notícia que traduzimos do jornal
alemão Das Echo, nos veio explicar, de alguma forma, o escândalo que se deu no
baile oferecido ultimamente na capital federal, ao Sr. Ministro da Agricultura.
O espírito de imitação, tão comum em nosso povo, é quase uma lei quando se trata de seguir exemplos da Grande República.
Foi por isso que o maxixe, do qual a
dança do peru parece ser digno êmulo, foi introduzido nas rodas aristocráticas
da capital do nosso país.
Felizmente, achamos como dividir a
responsabilidade que nos podia caber por esse escândalo social.
Da seção Bagatelas,
Correio do Povo, 20 de julho de 1912.
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