Foi Ezra Pound quem disse que os
poetas são a antena da raça. E quando se trata do poeta Vinicius de Moraes, põe
antena nisso. Vinicius, de fato, fez jus a essa ideia, especialmente quando
escreveu a letra de “Marcha da Quarta-feira de Cinzas”. Posteriormente, muitas
pessoas interpretaram essa música com uma canção de protesto e contestação ao
golpe de 1964. Alguém chegou a dizer: “Vocês deram a resposta a eles, hein?” Na
verdade, “Acabou nosso carnaval / Ninguém ouve cantar canções / Ninguém passa
mais brincando feliz / E nos corações / Saudades e cinzas foi o que restou...”
parece contestação. Só que os versos foram escritos em 1963, o que não
qualifica a música como uma canção de protesto ao golpe de 1964. Seria, no
máximo, uma canção de premonição.
Marcha da Quarta-feira de Cinzas
Música de Carlos Lyra
e letra de Vinicius de Moraes
Ninguém ouve cantar canções,
Ninguém passa mais brincando
feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que
restou.
Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê,
Que nem se sorri,
Se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando Cantigas de
amor.
E no entanto é preciso cantar,
Mais que nunca é preciso cantar,
É preciso cantar e alegrar a cidade.
A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar,
Todos vão sorrir,
Voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida Feliz a cantar.
Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz,
Tanto amor para amar
de que a gente nem sabe.
Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais,
Com a beleza dos velhos carnavais,
Que marchas tão lindas
E o povo cantando
Seu canto de paz..
(Do livro “Eu &
Bossa – Uma História da Bossa Nova”, de Carlos Lyra)
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