(Aos Garotos de Bagé)
Adail Bittencourt
Sinto saudade dos bichos
Que habitam a minha terra.
Do touro chucro berrando
Pelas encostas da serra.
Do cavalo soberano,
Das ovelhas em rebanhos,
Da capivara malandra
Soltando gritos estranhos.
Do filósofo jumento
Que é intruso na manada,
A tocar saxofone
Para saudar a alvorada.
O notívago zorrilho,
O negrinho zombeteiro,
Que à noite caça os insetos
E fabrica água de cheiro...
Do lagarto sem-vergonha,
É comilão e guloso,
Que guasqueia a lexiguana
Pra comer mel saboroso;
Da mão-pelada matreira,
Colega do graxaim,
Que pra caçar as marrecas
Se arrasta pelo capim;
Da sorrateira raposa,
Que dorme durante o dia
E, na calada da noite,
Nos galinheiro se enfia;
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Da lebre arisca, nervosa,
Saltitando pelo chão,
Entrando sem cerimônia,
Na lavoura de feijão.
Do tico-tico filante
Que anda sempre aos casais,
Rebuscando pelas eiras
O restolho dos cereais;
Da seriema arrebitada,
Barômetro original,
Em suas longas cantilenas
Anunciando o temporal;
Do quero-quero, o peãozito,
Que trabalha sem salário,
Cuidando todos os campos
Com zelo extraordinário;
Do alegre joão-de-barro
Que tira o barro do chão
Para erguer seu edifício
No esteio do galpão;
Da calhandra encantadora
E gatuna dos varais,
Que rouba a graxa do charque
E vai cantar
madrigais;
Posso afirmar a vocês
Que nem um bicho esqueci
Como é grande a variedade,
Não falo em todos aqui.
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(Do Almanaque do
Correio do Povo de 1972)
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