A
Revolução Federalista de 1893 criou um santo em Quaraí. Louvado até
hoje como Maragato, Euzébio Pereira foi um dos muitos degolados pelos
defensores do governo de Júlio de Castilhos no final do século passado.
Condenado a ser mais um rebelde anônimo, virou mártir depois de protagonizar
uma cena histórica.
Em
agosto de 1894, ele e seus companheiros combatiam os pica-paus dentro de uma
trincheira. Encurralados perto do córrego, os maragatos começavam a ficar
desesperados ao imaginar o fio da espada no pescoço.
Para
não condenar os amigos, que tinham muitos filhos, Euzébio – pai de uma menina ‒
pegou todas as armas e deu cobertura à retirada dos aliados. Em seguida, foi
dominado e teve a garganta cortada.
Em
retribuição à bravura do revolucionário, os companheiros de Euzébio trataram de
proteger Alexandra Trindade, sua mulher, e a filha Delmira. O local onde o
combatente foi morto nunca mais ficou sem flores. Por ironia, a rua onde tudo
aconteceu acabou recebendo o nome do algoz do Maragato: Júlio de Castilhos.*
ZH, 4 de dezembro de 1996
*
Para acabar com essa questão de ficar na rua Júlio de Castilhos, quebraram um
beco por ali, que se chama agora Beco do Maragato.
Acima, túmulo do
Maragato, abaixo, a placa do túmulo:
Fotos de Roberto Cohen.
(Do Blog Página do
Gaúcho)
Beco do Maragato
Dagoberto Mendes
Em
minha terra, Quarai, berço de Cyro Martins, a sangrenta “guerra de 93” fez
seus mártires e monumentos: o túmulo do “Maragato” é, até hoje, respeitado com
certa religiosidade e dá nome oficial a uma ruazinha da cidade, com algumas
casas pobres, geralmente de camponeses empurrados para o povo, tema do
romancista da trilogia do “gaúcho a pé”; a ele, pois dedico estes versos,
pobres e simples como aquela gente.
No
beco do maragato,
maragato
degolaram...
Só
ficou sua cabeça:
o
corpo desapareceu!
Mas
ficou preso à cabeça
pedaço
de lenço rubro.
Maragato
então virou
religião
de gente pobre;
velas
se lhe acenderam
por
mãos que a noite ocultava.
Maragato
virou lenda:
lenços
vermelhos e fitas
e
flores depositavam
homens
e mulheres simples
junto
à cruz, por oferenda.
Mas
só a cruz restou plantada
no
lugar onde a cabeça,
fora
do corpo ficou
‒
para sempre separada...
Por
piedade ou por promessa,
Um
oratório ali foi feito.
(Picapau
tira o chapéu,
se
ali passa, por respeito!)
Muita
moça solteirona
casamento
agradeceu;
ao
degolado do beco,
em
apuros de honra ou jogo,
gente
rica recorreu...
Contra
doenças, contra pragas
de
pessoas ou de bichos,
muita
oferenda foi posta
à
noite, junto do nicho.
Ninguém
sabe o nome dele.
E
quem soubesse calava
por
juramento ou promessa,
pois
quem reza por piedade,
ou
por agradecimento,
o
nome dele não sabe;
e
se soubesse, calava!
(Do Almanaque do Correio do Povo de 1980)
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