É hoje só
Se você votar num
homem de reconhecido saber público e perder,
ainda assim estará
aprimorando as instituições políticas.
Se você votar num
canalha e vencer,
estará deteriorando
as instituições políticas para sempre.
(O voto é a arma do
cidadão, a arma é o voto do poder.)
Pequenas lições de história natural
O corrupto é um animal extremamente
parecido com um não-corrupto, espécie extinta justamente porque é muito mais
fácil de pegar.
O corrupto serve principalmente como assunto
de conversa. Quando se está num papo e alguém fala em corrupto, é inútil tentar
mudar de assunto. Pode-se, no máximo, mudar de corrupto.
Uma característica estranha do
corrupto se observa em
restaurantes. O corrupto está sempre em outras mesas.
O corrupto tem sempre um belo
aspecto, é extremamente simpático e totalmente realizado. Ele jamais quereria
ser um não-corrupto. Já o não-corrupto está sempre lamentando não ter nascido
corrupto.
Os corruptos habitam inúmeras partes do
mundo, quase todas no Brasil.
Detalhe importante de mutação da
espécie: o corrupto moderno tem horror a colarinho-branco.
Ser político
(Para os que se
iniciam. Ou mesmo pros que estão acabando.)
Ser político é engolir sapo e não ter
indigestão, respirar o ar do executivo e não sentir a execução, é acreditar no
diálogo em que o poder fala e ele escuta, é ser ao mesmo tempo um ímã e um
calidoscópio de boatos, é aprender a sofrer humilhações todos os dias, em
pequenas doses, até ficar completamente imune à ofensa global, é esvaziar a
tragédia atual com uma demagogia repetida de tragédia antiga, é ver o que não
existe e olhar, sem ver, a miséria existente, é não ter religião e por isso mesmo
cortejar a todas, é, no meio da mais degradante desonra, encontrar sempre uma
saída honrosa, é nunca pisar nos amigos sem pedir desculpas, é correr logo pra
bilheteria quando alguém grita que o circo pega fogo, é rir do sem-graça
encontrando no antiespírito o supremo deleite desde que seu portador seja bem
alto, é flexionar a espinha, a vocação e a alma em longas prostrações ante o
poder como preparação do dia de exercê-lo, é recompor com estoicismo
indignidades passadas projetando pra história uma biografia no mínimo
improvável, é almoçar quatro vezes e jantar uma seis pra resolver
definitivamente o problema da nossa subnutrição endêmica, é tentar nobremente a
redistribuição dos bens sociais, começando, é natural, por acumulá-lo, pois não
se pode distribuir o pão disperso, e é ser probo seguindo autocritério.
E assim, por conhecer profundamente a
causa pública e a natureza humana, estar sempre pronto a usufruir diariamente o
gozo de pequenas provações e a sofrer na própria pele insuportáveis vantagens.
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