Companhia Fidelidade
Lisboeta de Seguros Gerais
Filial de Cascais –
Comarca de Sintra
Aviso de sinistro de
acidentes pessoais
Segurado: CONSTRUTORA ALENTEJANA
RESP. - LTDA./Apólice n° 012.3-45/001/Prazo de validade real: 30 de outubro de
1987.
Elemento sinistrado: Manoel João
Torres Borges/data do acidente: 20 de setembro de 1987.
Horário local: 14:30 / idade: 34 anos/casado/nacionalidade
portuguesa/branco/80 quilos/contratado em horário integral.
Exmos. Senhores:
Em resposta ao vosso pedido de
informações adicionais, declaro:
No quesito 3, mencionei “tentando
fazer o trabalho sozinho” como causa de meu acidente. Como em vossa carta é
solicitada uma explicação mais pormenorizada, espero que os detalhes abaixo
sejam efectivamente suficientes.
Sou assentador de tijolos e, no dia
do acidente, estava eu trabalhando sozinho no telhado dum edifício novo de seis
andares. Quando acabei meu trabalho, percebi que havia sobrado 250 quilos de
tijolos intactos. Ao invés de usar a escada dos trabalhadores e levá-los nas
mãos para baixo, decidi-me por colocá-los dentro dum barril e com a ajuda de
uma roldana que, inclusive, estava fixada num dos lados do edifício, iniciei ao
que me propunha.
Desci até o rés-do-chão e atei o
barril com uma corda, fui para o telhado e puxei-o para cima e deitei-lhes os
tijolos adentro. Voltei para baixo e desatei a corda segurando-a com força de
modo que os 250 quilos de tijolos descessem devagarinho (notem que no devido
quesito menciono que o meu peso é de 80 quilos).
Devido a minha enorme surpresa por
ter saltado repentinamente do chão, perdi minha presença de espírito e
esqueci-me de largar a corda. É desnecessário dizer que fui içado para o alto e
com grande velocidade. Nas proximidades do terceiro andar, embati-me contra o
barril que vinha a descer. Isso explica a fractura de crânio e a quebra de uma
das clavículas.
Continuei a subir, porém com uma
velocidade ligeiramente menor e somente fui parar, lá no alto, quando os nós de
meus dedos ficaram entalados nas roldanas. Felizmente eu já tinha recuperado
minha presença de espírito e, apesar das dores, consegui agarrar-me à corda.
Mais ou menos ao mesmo tempo, o barril com os tijolos caiu no chão, quando o
fundo partiu-se. Sem os referidos tijolos, o barril pesava somente 25 quilos
(confiram, por favor, meu peso no quesito 1) e como podem imaginar Vossas
Senhorias, comecei a descer rapidamente. Quando eu estava próximo do terceiro
andar, encontro novamente o barril vazio que vinha a subir e isso justifica a
natureza dos tornozelos partidos e das lacerações nas pernas e inclusive nas
partes inferiores do corpo. O encontro com o barril fez com que diminuísse a
velocidade de minha descida, o que de facto minimizou os meus sofrimentos
provocados pela queda em cima dos tijolos, no momento em que, felizmente, só
fracturei três vértebras.
Profundamente constrangido pelo
prejuízo que acabei provocando para Vv.Sas. lamento informar que quando me
encontrava deitado no chão, por cima dos tijolos, acometido de dores e
incapacitado de levantar-me, perdi novamente minha presença de espírito e
larguei a corda, sem perceber que o barril estava lá no alto, sobre minha
pessoa. Portanto, ele pesava mais que a corda (vide parágrafo 5), ele desceu
rapidamente e caiu em cima de mim, ocasião em que me partiu as duas pernas.
Pronto.
Na certeza de que tenha dado as
informações esclarecedoras, com apreço, subscrevo-me.
______________________
Manoel João Torres
Borges
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