quinta-feira, 5 de maio de 2016

Sociedades Secretas


Mais mentiras do que mistérios

(Da Revista História da Biblioteca Nacional – junho 2011)

Religiões, sociedades ocultistas, criminosos, ativistas políticos. Verdadeiros ou inventados, vários grupos devem muito sua fama à ligação com nomes célebres e supostas verdades escondidas.

Carbonária

→ Originário de Nápoles, os carbonários eram revolucionários que agiam secretamente durante as Guerras Napoleônicas, no início do século XIX. Inicialmente nacionalistas, organizaram levantes contra governantes estrangeiros na região da futura Itália, lutando pela adoção de regimes constitucionais. A sociedade teve grande atuação nas revoluções que se espalharam pelo continente europeu entre 1820 e 1848. Um dos episódios mais marcantes da atuação da Carbonária ocorreu em Portugal. Instalada no país desde a década 1820, passou a agir firmemente contra a monarquia na década 1890, a partir do envolvimento na educação popular e em conspirações. Esteve envolvida nos assassinatos do rei D. Carlos I e do príncipe herdeiro D. Luís Filipe, em 1910. Entre seus membros mais famosos estavam o poeta inglês Lord Byron e o político italiano Giuseppe Mazzini.

Cavaleiros Templários


→ A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, seu nome oficial, foi fundada em Jerusalém na época da primeira Cruzada, no final do século XI, para dar proteção aos peregrinos cristãos na região. O cavaleiro francês Hugo de Payns sugeriu que fosse criada uma força militar subordinada à Igreja para este fim. Seus membros foram alojados no local onde havia sido construído o mítico templo de Salomão. Aprovado em 1129, dez anos depois recebeu uma bula papal que isentava da obediência às leis locais, ligando-a diretamente ao papa. No século XIV, a ordem foi acusada de praticar bruxaria, o que contribuiu para a associação dos seus membros a práticas ocultistas. Seu último grão-mestre, Jacques de Molay, morreu na fogueira por ordem do rei francês Felipe IV em 1314.

Simbologia: O emblema dos templários mostra dois cavaleiros dividindo a mesma montaria, expressando o ideal de humanidade do grupo. Sigillum Militum Xpisti quer dizer o selo dos Soldados de Cristo.

Jurema

→ Culto difundido no Nordeste do Brasil, tem forte relação com o consumo de planta do mesmo nome por grupos indígenas. Atualmente recebe influências de diversas manifestações religiosas, como catolicismo, religiões nativas e africanas. O culto tem origem na veneração de potiguares e tabajaras pela árvore, da qual fazia uma bebida ritualística. Com chegada de grupos africanos, houve uma troca de conhecimentos e de tradições religiosas relacionadas à natureza. Há duas grandes linhas de trabalho na Jurema: a dos mestres, ligada ao culto dos mortos e das divindades da natureza; e das encantados, ligada à invocação dos antigos pajés.

Germanenorden

→ Fundada na Alemanha no início do século XX, a sociedade secreta tinha como membros vários ocultistas alemães, e um dos seus traços fundamentais era o antissemitismo. Defensora da superioridade da “raça” ariana, a sociedade agia de forma clandestina e tinha uma organização fraternal e hierárquica. Entre seus rituais estava a celebração do solstício de verão, uma festividade associada ao paganismo – característica que seria, aliás, incorporada pelos nazistas alemães, assim como seu símbolo, a suástica. Seus membros deviam comprovar ter sangue ariano “puro” e jurar manter a pureza por meio do matrimônio.

Illuminatti


→ Sociedade criada pelo filósofo alemão Adam Weinshaupt em 1776. O termo, que significa “Uluminados” em latim, também foi utilizado para designar outros grupos. Educado por jesuítas, Weinshaupt envolveu com rituais pagãos e com o maniqueísmo, filosofia religiosa dualista surgida na Pérsia no século III que divide o mundo entre o bem (Deus) e o mal (o Diabo). O fundador lecionava na Universidade de Ingolstadt, selecionou os adeptos entre seus alunos, aos quais ensinava conhecimentos secretos proibidos pela Igreja. Reprimida no século XIX, esta sociedade voltou à tona em 2000, com a publicação do livro Anjos e Demônios, de Dan Brown. Por conta do segredo que envolveu o grupo em sua fundação, teorias conspiratórias passaram a associar seu nome a episódios como os ataques terroristas nos Estados Unidos em 2004 e à morte da princesa Diana.

Simbologia: Olho que tudo vê – também chamado de Olho da Providência, o olho rodeado de raios de luz dentro ou sobre um triângulo foi utilizado pela maçonaria e, depois, pelos Illuminatti.

Ku Klux Klan


→ Organização criada em 1865, tinha como objetivo original perseguir os negros no sul dos Estados Unidos e manter a supremacia da “raça” branca. O nome deriva da palavra grega kuklos (círculo), e por ser formada majoritariamente por descendentes de escoceses, cujas famílias se organizaram em clãs, acrescentou-se à sua denominação a palavra klan. Seus membros usavam capuzes e túnicas brancas para aterrorizar seus alvos, fazendo-os crer que eram fantasmas dos confederados mortos em combate durante a Guerra Civil (1861-1865). A Justiça americana classificou a KKK como “grupo terrorista” em 1869. Atualmente, a maioria dos membros é cristã protestante, e o leque de ataque e mais amplo: além dos negros, perseguem imigrantes, judeus, homossexuais, comunistas e católicos.

Simbologia: Mioak (insígnia mística da Ku Klux Klan. A cruz com fundo vermelho era exibida nas roupas brancas dos membros do grupo. A gota no centro do símbolo indicaria a pureza do sangue da raça ariana.

Majestic 12

→ Suposto comitê secreto criado em 1947 pelo presidente norte-americano Harry Truman para investigar as atividades de óvnis. Seus membros seriam militares de alta patente e cientistas de alto nível, reunidos após o incidente de Roswell, no Novo México, ocorrido naquele ano e que envolveria uma espaçonave alienígena. Algumas fontes chegavam a mencionar a participação do físico Albert Einstein no comitê. O objetivo do grupo seria divulgar teorias para ocultar a verdade sobre o episódio. Caso clássico de “teorias da conspiração”, os documentos que comprovavam as atividades do grupo eram forjados. Em um deles, a assinatura do presidente Truman havia sido fotocopiada.

Máfias

→ O crime organizado envolve grupos de alcance mundial, as máfias, que são dirigidas por colegiados secretos. Um tipo muito comum é das chamadas Tríades chinesas. A primeira destas redes criminosas foi criada no século XVII e combateu a dinastia Qing. No século XX, já estavam espalhadas pelo globo explorando diversas atividades ilegais, como a prostituição e o tráfico de mulheres. Os grupos surgidos no Japão estão, em grande parte, organizados em torno da Yakuza, e atuam desde o final do século XVII. Obedecem a regras rígidas, e seus membros são proibidos de falar sobre a organização. Hoje se envolvem em atividades como prostituição, tráfico de drogas, de armas e de pessoas e lavagem de dinheiro. Seus integrantes têm os corpos cobertos de irezumis, tradicionais tatuagens japonesas, e o castigo clássico consiste em decepar a ponta do próprio dedo a cada erro cometido. As máfias italianas surgiram na Idade Média como grupos que extorquiam em troca de proteção, e ganharam fama no século XIX – caso da siciliana Cosa Nostra, que tem ramificações em países como Estados Unidos, Canadá e Austrália.

Muti

→ Medicina tradicional praticada no sul da África por curandeiros chamados de sangonas. Em geral, a prática é inofensiva para as pessoas, utilizando o conhecimento sobre ervas e árvores como meio de cura. Mas há também assassinatos rituais, clandestinos, nos quais partes do corpo humano são utilizados para a produção de medicamentos ou para dar sorte. Em 2002, foi encontrado no Rio Tamisa, em Londres, o torso de um menino, que se suspeitou ter sido vítima deste tipo de ritual secreto.

Ninjas

→ Personagens muito popularizados pela ficção, os ninjas surgiram no Japão por volta do século XIV. Eram agentes secretos com métodos de combate igualmente obscuros e que se dedicavam à espionagem e aos assassinatos. Um manual de 1676, chamado Bansenshukai, traz uma coleção de conhecimentos ninja, incluindo estratégia militar, filosofia e astrologia, enfatizando sua importância para a segurança do Estado. Seu autor afirma que o Ninjutsu (o conjunto de artes ninja) só pode ser utilizado por “pessoas conscientes e sem más intenções”, e destaca a necessidade de lealdade total ao seu senhor. Não ser visto ou ouvido é um aspecto fundamental na atividade de um ninja (ou shinobi): “Esteja seguro de que você não faz barulho enquanto utiliza ferramentas para invadir um lugar”.

Ordem dos Assassinos

→ Seita secreta islâmica chamada Hashashin, foi fundada no século XI e atuou na Síria e na Pérsia. O fundador é Hassan Bin Sabbah, também chamado de Velho da Montanha ou Senhor da Montanha, de origem persa, que fazia parte de uma facção religiosa dentro do Islã, o islamelismo. Seus membros eram basicamente assassinos políticos, e seu nome significa “usuário de haxixe”. Os hashashin eram divididos em grão-mestre, dais (emissários), rafiqs (associados) e fadais (devotos). A ordem existiu até aproximadamente 1260.

Ordem Hermética da Aurora Dourada

→ Criada na Inglaterra na década de 1880, era uma sociedade mágica que reunia diversas formas de práticas ocultas. Entre outras tradições mágicas, a Aurora Dourada (“Golden Dawn” em inglês) incorporava a cabala e a magia cerimonial, que consistia na invocação de espíritos. Quanto aos seus membros, não havia restrição de raça, religião ou sexo. Seus fundadores afirmavam que a criação da ordem obedeceu a instruções de um manuscrito do início do século XIX, escrito em código e contendo cinco rituais e uma estrutura hierárquica. Posteriormente, descobriu-se que os textos que davam base à organização haviam sido forjados, o que a deixou em descrédito.

Opus Dei


→ Criado em 1928 pelo espanhol Josemaría Escrivá de Balaguer, atualmente é uma prelazia pessoal reconhecida pelo Vaticano. Por isso seus membros não precisavam seguir a autoridade católica regional, mas sim o diretor da organização. O objetivo dos membros do Opus Dei (Obra de Deus) é santificar o mundo. Os que vivem em função da organização são chamados de numerários e precisam se confessar semanalmente para o diretor do centro onde residem. Há também os que vivem “no mundo”, os supranumerários, que podem se casar, ter filhos, viver em suas própria casas, embora muitas vezes também recorrem à penitência física. A instituição é acusada por muitos de ser ultraconservadora e submeter seus membros à obediência cega. Proíbe a leitura de determinados autores, como José Saramago e James Joyce. Seu fundador foi santificado, 27 anos após sua morte, por João Paulo II, em 2002.

Simbologia: A Cruz no Mundo símbolo oficial do Opus Dei, a cruz dentro do círculo representa o cristianismo inserido no mundo.

Ordem dos Nove Ângulos

→ É uma organização secreta satanista criada no reino Unido, que ficou conhecida a partir da década de 1980. Presentes na Europa e em países de outros continentes, como Estados Unidos, Austrália, Canadá e Rússia, seus membros defendem o satanismo como uma forma de elevação do ser humano e de criação de uma civilização superior. Entre os ritos de passagem está o isolamento em uma floresta por três meses, como forma de desenvolver a personalidade. Fortemente marcadas pelo individualismo, as ideias da Ordem dos Nove Ângulos buscam, segundo seus membros, a construção de um individuo “franco, deleitado na exploração e na descoberta de ter uma atitude essencialmente pagã de viver”. Sacrifícios humanos são incentivados como forma de fortalecer a sociedade, livrando-a dos mais fracos.

Priorado de Sião

→ Suas origens míticas remontam a 1099, em Jerusalém, quando uma sociedade secreta teria sido fundada para proteger um segredo relacionado ao santo Graal – a descendência humana de Jesus Cristo. Mas fontes confirmam que a fundação só ocorreu em 1956, quando o francês Pierre Plantard criou uma sociedade fraternal na cidade de Annemasse. Seus membros se reuniam em uma localidade chamada Mont Sion com o objetivo de restituir valores tradicionalistas e moralizadores para melhorar a personalidade humana. De acordo com a mitologia criada, nomes como o do pintor renascentista Sandro Botticelli e do cientista inglês Isaac Newton estiveram ligados ao Priorado. Em 1993, Plantard confessou ter criado a ordem para se legitimar como descendente da dinastia merovíngia (século V-VIII) no caso de uma restauração monárquica.

Rosacruz

→ As primeiras referências à irmandade mística Rosacruz apareceram na Alemanha, em manifestos anônimos, no início do século XVII. Segundo os textos, o objetivo do grupo, “doutores filósofos místicos”, era reformar a humanidade. Um dos manifestos identifica o fundador da sociedade como Christian Rosenkreuz, personagem mítico que teria vivido entre os séculos XIV e XV, e que teria estudado artes ocultas no Oriente. Ao retornar à Alemanha, ainda de acordo com a lenda, Rosenkreuz transmitiu seus conhecimentos ocultos a uma pequena fraternidade que se dedicava à cura e ao amparo dos necessitados. Atualmente, diversas sociedades se declaram descendentes deste suposto primeiro grupo.

Shindo Renmei

→ Junji Kikawa era ex-coronel do exército japonês que vivia em São Paulo durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1942, fundou uma organização secreta chamada Shindo Renmei (ou Liga do Caminho dos Súditos). O objetivo era reunir os colonos em torno do sentimento nacional japonês. O Japão acabou se rendendo em agosto de 1945, mas os seguidores de Kikawa se recusavam a aceitar a derrota do seu país, já que seu imperador era considerado divino. A partir daí, começaram a perseguir os japoneses que aceitaram a derrota, chamando-os de “corações sujos”. A primeira vítima fatal foi Ikuta Mizobe, presidente da Cooperativa Agrícola de Bastos (SP), que havia distribuído um comunicado confirmando que o Japão perdera a guerra. Os matadores da organização atuaram durante 13 meses, assassinado 23 pessoas e ferindo 147. A polícia paulista identificou 31.380 imigrantes suspeitos de ligação com o grupo.

P.S. “Corações Sujos” filme de Vicente Amorim foi baseado no livro de Fernando Morais.

Skull and Bones


→ Fundada em 1832 na Universidade de Yale (Connecticut, EUA), é cercada de teorias da conspiração. A mais difundida delas diz que a CIA teria sido criada por membros do grupo, e três presidentes americanos, inclusive Bush pai e filho, eram membros da sociedade. Seu símbolo é uma caveira (skull, em inglês) com dois ossos (bones) cruzados sobre o número 322 – não se sabe ao certo o significado deste número. O grupo se reúne em um prédio no campus da universidade chamado Tumba. Recentemente, relacionou-se a ele a morte de Osama Bin Laden. O codinome utilizado pelas forças especiais norte-americanas para identificar o saudita foi “Gerônimo”, um líder indígena que teve seus ossos supostamente roubados pela Skull and Bones.

Simbologia: Inicialmente chamada de Clube de Eulogia, a imagem da caveira com dois ossos cruzados sobre o misterioso número 322 deu nome à sociedade

Thule


→ Grupo ocultista alemão fundado em 1918 por Rudolf von Sebottendorff. Seu nome é uma referência a uma lenda nórdica que evocava uma terra mítica próxima da Groenlândia. Lá teria vivido uma civilização superior, a origem da raça ariana. Profundamente nacionalista, teve entre seus membros nomes importantes do Partido Nazista, ainda que não exista evidência de que Hitler tenha sido um deles. Embira um site oficial da organização negue qualquer ligação coma ideologia nazista, sabe-se que seu periódico, o Observador do Povo, tornou-se propriedade do partido em 1920 e funcionou até a derrota dos alemães na Segunda Guerra, em 1945.

 Simbologia: Suástica simbolizando a energia do cosmo em movimento, também é conhecida como cruz gamada. Antes de ter sido associada ao nazismo alemão, ela era utilizada pela sociedade Thule.

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