Fantasia do bonde
Bastos Tigre
Bonde do Jóquei Clube, às nove e meia
De quinta-feira. Vou sentar-me ao lado
De uma jovem gorducha e nada feia,
Vestido branco, de filé bordado.
Ela vai, distraída, ao mundo alheia,
E nem vê que eu reparo interessado
No bucinho que os lábios lhe sombreia,
Quase bigode – um buço avantajado.
E esta hipótese simples vem à mente:
Amou alguém apaixonadamente,
O alguém fugiu-lhe e ela, ferida e louca,
Tentou matar-se e, em desespero insano,
Em lugar de veneno, astúcia ou engano?
Levou de Pilogênio* um vidro à boca.
*Remédio para crescimento de cabelos e contra queda capilar
Gritando espalharei por toda a parte
Bastos Tigre
Quando me encontram, de francesa ao lado,
Na Colombo, no Alvear, no Bar Assírio,
Todo o pessoal se mostra despeitado
Como, um de inveja, satânico delírio.
– É o “Petit Chocolat” – diz um “barrado”!
– É o Bacharel Paisagem! Que martírio!
Mas que culpa tenho eu de ser amado
Pelas damas de face cor de lírio?
Porém hoje – ai de mim! – leitor, não troces!
Fero, ingrato destino me apavora,
Me enche a vida de angústias e surpresas!
O Bromil* liquidou todas as tosses!
Que é que eu, Basílio, vou fazer agora,
Eu, que sou a “Coqueluche das francesas”?!
*Xarope expectorante.
Emílio de Menezes
Lira: – se qual o azeite anda por cima,
Nada a muda do branco para o preto,
E nem perde a verdade apreço e estima,
Pelo fato de a expor em tom faceto;
Como tudo que existe cabe em rima,
Bem cabe um atestado num soneto,
Por isso, a ideia que hoje aqui me anima,
Nestes catorze versos que lhe remeto.
Pode afirmar, por toda a eternidade,
Aos mil que sofrem e aos descrentes mil,
Que isso que aí vai é a essência da verdade:
Da horrível tosse que me pôs febril,
Dei cabo, usando apenas a metade
De um milagroso frasco de “Bromil”.
Tenho a maior
satisfação em declarar que,
sofrendo de uma
bronquite pertinaz,
fiquei radicalmente
curado com o uso do Bromil.
Podem fazer deste
texto o uso que lhes convier.
Rio, 5 abril 1918.
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