O homem crente
Vinicius
O verdadeiro crente em tudo se revela.
No prazer é
comedido, na dor é resignado.
Na alegria é
expansivo, sem alarde; na tristeza é recolhido, sem reclamos.
Na saúde é
temperante; na enfermidade é sofrido.
Na abastança
é generoso; na pobreza é conformado.
No juízo
próprio é severo; no juízo de outrem é indulgente.
No falar não
é fátuo; no calar não é covarde.
Na sociedade
é fraterno; na intimidade é afetuoso.
No dizer – Sim – é sincero; no dizer
Não – é benigno.
No saber não
se vangloria; no ignorar não dissimula.
Na promessa
é fiel; no dever é reto.
Na paz é
advertido; na luta é diligente.
Na prática
do bem é altruísta; em recebê-lo é reconhecido.
Na fé é
espiritual, na esperança é perseverante, no amor é puro, no querer é firme.
Nos sucessos
da vida quer que sobre a sua vontade prevaleça a vontade de Deus.
É assim o
verdadeiro crente: em tudo se revela.
O homem sem crença
O homem sem crença em tudo se revela.
No prazer é
descomedido; na dor é insofrido.
Na alegria é
exagerado; na tristeza é irritado.
Na saúde é
intemperante; na enfermidade é desesperado.
Na abastança
é egoísta; na pobreza é revoltado.
No juízo
próprio é lisonjeiro; no juízo de outrem é temerário.
No falar é
fátuo; no calar é covarde.
Na sociedade
é hostil; na intimidade é intolerante.
No dizer – Sim – é afetado; no dizer – Não –
é arrogante.
No saber se
vangloria; no ignorar dissimula.
Na promessa
é falso; no dever é falho.
Na paz é
negligente; na luta é imprudente.
Quando faz o
bem é interesseiro; quando recebe é ingrato.
Na fé é todo
material, na esperança é todo inconstante; no amor é todo sensual, no querer é
todo instável.
Nos sucessos da vida quer que sua
vontade prevaleça sobre as demais, inclusive sobre a vontade suprema de Deus,
cuja existência nega e cuja justiça desdenha.
É assim o
homem ímpio: em tudo se revela.
(Do Almanaque do
Correio do Povo – 1970)
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