A cena chegou a ser dolorosa, mas
deixou uma bonita lição. A jovem tinha cerca de 27 anos e o menininho, uns 2.
Foi uma luta de gigantes. Ele se mostrava birrento, teimoso e violento. Ela,
forte, serena e irredutível. O palco da guerra era uma prateleira de
supermercado recheada de chocolates. O menino parecia uma fera enjaulada
queria, porque queria, cinco. E ela, uma domadora sem chicote ele poderia levar
apenas um. Foi uma aula de maternidade. Além de mim, pelo menos uns 15 espectadores
observavam o acontecimento. Que menino nervoso! E que raiva ele cuspia daquele
rostinho transtornado! Gritava tão alto, chorava tão forte e doído, que parecia
estar apanhando de porrete. Batia os pés, rolava no chão, ameaçava derrubar a
prateleira toda, mas todas essas tentativas foram inúteis. Sem usar de
violência física ou erguer a voz, a mãe o obrigava a escolher. “Ou leva só um
ou não leva nenhum. Vai ter de escolher”. A voz não era de quem tem raiva.
Foram dez minutos dolorosos, no final dos qual o pequeno aceitou sua derrota.
Os gritos, os urros e os pontapés foram diminuindo. Por fim, o garoto enxugou a
manha, aceitou a mão da mãe e saiu do supermercado com sua única barra de
chocolate. O resto ficou lá, na prateleira.
Vencera a mãe e perdera o
supermercado.
Desde que o mundo é mundo, crianças
querem, porque querem certas coisas. E muitos pais ou cedem, para não ter de
enfrentar o incômodo da birra, ou se descontrolam e batem no filho birrento.
Mas poucos pais educam os filhos para a questão do ter. Crianças são pequenos
capitalistas que não gostam de renunciar ou perder. E, se os pais não lhes
ensinam a aceitar sua escolha, elas sofrerão na vida e farão outros sofrer. São
lindas as mães e fabulosos os pais que proíbem, sem raiva, e dão o necessário,
sem dar demais. A nossa sociedade tem mentalidade de supermercado. Oferece mil
prateleiras com tentações e incita os imaturos a consumir mais do que precisam.
Por isso mesmo são dignos de aplauso e casais que conseguem educar seus filhos
para não consumir demais. Com a televisão a ensinar o contrário, não é nada
fácil. Mas muitos conseguem.
A lição da jovem mãe paulista me
lembrou outra senhora jovem de New Bedford, Massachussets, grávida e com outro
filho de três anos ao lado. Três amigos e eu esperávamos a vez de sermos
servidos numa soverteria e, como era natural, cedemos a ela a nossa vez. Ela
polidamente recusou, explicando-se “Estou bem e agradeço. Quero educar meu
filho para que saiba esperar sua vez. Se eu passar a sua frente, ele vai aprender
o que é errado”.
Gosto de contar isso aos casais.
O Brasil seria outro, se os pais, ricos ou pobres, tivessem esse comportamento.
Quanto mais cedo a criança aprende a escolher, melhor para ela. Se crescer
ganhando tudo no grito, vai se perder um dia, na profissão ou no casamento.
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* Não temos a autoria ou
fonte, se alguém souber qual seja, por favor, informe-nos, a fim de que
possamos dar os devidos créditos.
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