*(...do pampa rio-grandese)
Raúl Annes Gonçalves
No geral, é vitima do destino.
Nascida em um rancho de gente humilde, logo de início torna-se, apesar de tenra
idade, responsável por seus irmãozinhos, ajudando a mãe a criá-los. Dos oito
aos dez anos irá ao colégio, se houver na redondeza. E a freqüência não vai
além do necessário para aprender a ler e rabiscar um bilhete.
Depois de moça, criada sem infância,
não conhecerá a liberdade de que desfruta a mocidade. Seus namoros são
controlados. Na sala, junto aos namorados, sempre vigiada, tutelada e
governada. Jamais age por si mesma.
Depois de casada, logo passará ao rol
das velhas. Em bailes, dançará pouco e por pouco tempo. Lua-de-mel é coisa
ignorada. Nos primeiros dias de casada terá os pais e irmãos ao seu costado. Se
for morar com o noivo, isto é, marido, logo lhe darão uma companheira, porque
“mulher só não dá certo”.
Garantido que, no primeiro ano, terá
um bebê. E nos outros também. Sua missão, pronto, está definida: criar filhos,
cozinhar, costurar, lavar, passar, criar pintos, terneiros guachos, ajudar no
plantio e colheita da chácara e ordenhar as vacas de leite cedo todas as
manhãs.
Passeios? Para quê? Se há tanto o que
fazer? À cidade só vai quando há doença, nela ou nas crianças. No rancho, ela
faz e resolve tudo. No marido, quase sempre encontra um bom companheiro e pai
amoroso para os filhos, mas completamente alheio aos serviços domésticos, suas
necessidades e carência de conforto. Das roupas usadas, faz vestes para os
filhos e as roupas velhas dos filhos maiores diminuem para os menores.
Trata dos doentes com auxílio de
remédios caseiros e fé em
Deus. Não se lastima contra a sorte nem se arrenega.
Cumpre sua árdua tarefa como se esta lhe fosse imposta pela vontade de Deus.
Não cobiça o alheio nem inveja a vida dos patrões. Sem outro apoio que não o do
marido, isolada em seu rancho, dá aos filhos uma educação onde prevalece o
respeito às pessoas mais velhas e o temor a Deus. E criam-se e vivem num
ambiente de honestidade e honradez que lhes dá alegria de viver e segurança em
si mesmos.
(Do Almanaque do
Correio do Povo – 1976)
Meu Deus, pobre mulher,vocês tem certeza que a escravidão acabou
ResponderExcluirRealmente, a mulher pobre do pampa gaúcho tinha esse destino e, creio eu, que até hoje seja assim.
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