Hitler - Franco e Mussolini
Ao contrário do que
muitos pensam, o Fascismo não chega ao poder pela força das armas. O fascismo é uma
ideologia salvacionista diante de um estado inerte.
André Araújo - Jornal
GGN
Renzo de Felice, professor de
História da Universidade de Roma, falecido em 1997, é por unanimidade
considerado o maior historiador do Fascismo italiano. Sua monumental biografia
de Benito Mussolini, em 4 volumes e 6.000 páginas se alinha com mais 8 livros,
do qual o mais importante é La
Interpretazione del Fascismo. Para De Felice, o Fascismo é uma
ideologia revolucionária e modernizadora da classe média com origem no
iluminismo. De Felice era comunista histórico, rompeu com o PCI e entrou para o
partido Socialista.
Minha interpretação (não é a de De
Felice) é alinhavada em certos princípios. Ao contrário do que muitos pensam, o
Fascismo não chega ao poder pela força das armas.
O roteiro do
Fascismo:
1. Um pequeno núcleo determinado imbuído
da ideia salvacionista e messiânica produz ações impactantes e surpreendentes
para mostrar força perante a opinião pública.
2. Esse pequeno núcleo não descansa,
opera por "ondas" contínuas, sem intervalo e sem descanso, mostrando
garras moralizadoras, para não dar tempo às forças contrárias de esboçar
reação. Essas ondas vão em um crescendo de ousadia e audácia, deixando os
opositores e os neutros surpreendidos a cada dia.
Em Portugal o Fascismo ascendeu sem
luta, pela ruína financeira do Estado que tornou possível convocar um modesto
professor de economia para assumir o poder por 40 anos, criando seu próprio
fascismo, a União Nacional.
Nos demais o grande elemento que
favoreceu a ascensão do Fascismo foi a covardia de todas as estruturas do
Estado. Covardia do Rei, do Parlamento, da cúpula do Judiciário, dos
empresários. Todos ficaram apalermados e inertes com a ousadia do pequeno grupo
determinado, messiânico e salvacionista, que se considerava o único grupo capaz
de salvar o Pais imbuídos de uma missão em que eles acreditam ou fingem
acreditar.
O Fascismo não precisou de força armada para
tomar o Poder nesses países. Bastou a audácia. Mussolini liderou a Marcha sobre
Roma com um punhado de arruaceiros. Meio batalhão do Exército liquidaria com o
grupo em meia hora.
Mas quem daria a ordem de comando?
Ninguém, pois, todos se acovardaram. Os Fascistas são ousados e jogam com a
sorte, como Hitler sabia que os aliados estavam acovardados de 36 a 39 e não reagiriam às
suas investidas na Renânia, na Áustria, na Tchecoslováquia, só falhou na Polônia
porque abusou da sorte, falhou porque não acreditava, até o último instante,
que a Inglaterra reagiria e, com a invasão da Polônia, se iniciasse uma nova
guerra mundial.
Na Alemanha, onde um desdobramento do
Fascismo, mais agressivo e violento, chegou ao poder em eleições diretas, a
audácia veio depois, com Hitler em pouco tempo rompendo a Constituição de
Weimar para se tornar ditador.
O Fascismo é um movimento no início
moralizador e de classe média. A corrupção inevitável vem depois. No começo
veio para purificar as instituições, prender os corruptos, modernizar o País.
Depois se torna ditadura e cria sua própria corrupção, afastando a corrupção do
antigo regime.
De Felice é um Historiador visionário
porque decifra o Fascismo em dois ângulos: como História de uma época e como
Ideologia Salvacionista. Nesta segunda visão, se aplica a qualquer tempo, pois o
Fascismo é uma ideologia atemporal.
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