Barão de Itararé
Justiça de Salomão
Por Tristão Bernardo
O rei Salomão, como sabeis, morreu em
975 em Jerusalém e nasceu em 1032. Esta é uma originalidade dos personagens de
antes da era cristã de morrer assim antes do seu nascimento. Ele era o autor
daquele julgamento cujas razões e “consideranda” são presentes em todas as
memórias, entre duas mães que disputavam uma criança. Seu julgamento causou tão
viva impressão que mais nenhuma pessoa no país se atrevia a litigar. Salomão
chegava todos os dias no palácio, para fazer justiça:
‒ Nada
de novo? – perguntava ao chefe da guarda.
‒ Nada
de novo, Majestade.
Salomão
oscilava gravemente a cabeça e dizia:
‒ Tanto melhor! Tanto melhor!
Entretanto, ele achava que assim seu
renome de bom juiz estava sendo mal conservado e empalidecendo um pouco na
lembrança dos homens.
Mais que um dia, como o rei Salomão
caminhava devagar, ia chegando com méis hora de atraso, o chefe da guarda veio
a seu encontro, correndo:
‒ Majestade! Estão aí dois
contendores!
‒ Vamos ver, -
disse o rei.
O soberano entrou precipitadamente na
sala de audiências, e levaram à sua presença dois homens e uma mulher idosa. Os
dois homens que pareciam muito irritados, um contra o outro, expuseram, bem ou
mal, constantemente interrompidos pela mulher, a questão que os levava ao
tribunal.
Um daqueles homens partira, trinta
anos antes, para um país longínquo, onde se casou com uma moça; tendo morrido
rapidamente a supracitada jovem, ele deixou o país em questão e regressou à
cidade natal. Trinta anos depois desse acontecimento, a mãe da moça falecida
chegou a Jerusalém e procurou saber onde morava o seu genro. Aconteceu, porém,
que na localidade residiam dois homens, portadores do mesmo nome e que eram,
mais ou menos, da mesma idade.
Grande perplexidade. Cada um desses
homens dizia à mulher: “Eu não a conheço!” Um de boa e outro de má fé,
evidentemente.
Qual seria o verdadeiro genro? O rei
Salomão concentrou-se durante alguns instantes e, segundo a jurisprudência que
tanto o notabilizara, mandou que trouxessem um grande sabre para dividir em
dois o corpo da mulher. Mas no momento em que o estribeiro decepante ia
praticar o seu ofício, um dos homens gritou:
‒ Não, não! Isso é muito
desumano!
Enquanto o outro dizia:
‒ Mas, em todo caso, é uma
solução!
Salomão aproximou-se deste último,
pôs-lhe a mão sobre o ombro e disse-lhe:
‒ Tu és o verdadeiro genro!
E entregou-lhe a sogra, de corpo
inteiro.
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