(1524? – 1580)
O tempo acaba o ano, o mês e a hora,
A força, a arte, a manha, a fortaleza;
O tempo acaba a fama e a riqueza,
O tempo o mesmo tempo de si chora;
O tempo busca e acaba o onde mora
Qualquer ingratidão, qualquer dureza;
Mas não pode acabar minha tristeza,
Enquanto não quiserdes vós, Senhora.
O tempo o claro dia torna escuro
E o mais ledo prazer em choro triste;
O tempo, a tempestade em grão bonança.
Mas de abrandar o tempo estou seguro
O peito de diamante, onde consiste
A pena e o prazer desta esperança.
A força, a arte, a manha, a fortaleza;
O tempo acaba a fama e a riqueza,
O tempo o mesmo tempo de si chora;
O tempo busca e acaba o onde mora
Qualquer ingratidão, qualquer dureza;
Mas não pode acabar minha tristeza,
Enquanto não quiserdes vós, Senhora.
O tempo o claro dia torna escuro
E o mais ledo prazer em choro triste;
O tempo, a tempestade em grão bonança.
Mas de abrandar o tempo estou seguro
O peito de diamante, onde consiste
A pena e o prazer desta esperança.
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Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
ligeiro, ingrato, vão, desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.
Amor é brando, é doce e é piedoso;
Quem o contrário diz não seja crido:
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens, e inda aos deuses, odioso.
Quem o contrário diz não seja crido:
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens, e inda aos deuses, odioso.
Se males faz Amor, em mim se veem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.
Mas todas suas iras são de Amor;
Todos estes seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria.
Todos estes seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria.
Camões por Loredano
Luís Vaz de Camões presume-se tenha
nascido em Lisboa por volta de 1524, de uma família do Norte (Chaves). Viveu
algum tempo em Coimbra onde, segundo consta, frequentou aulas de Humanidades no
Mosteiro de Santa Cruz onde tinha um tio padre. Regressou a Lisboa, levando aí
uma vida de boemia. Em 1553, depois de ter sido preso devido a uma briga, parte
para a Índia. Fixou-se na cidade de Goa onde escreveu, de acordo com seus
estudiosos, grande parte da sua obra. Regressa a Portugal em 1569, pobre e
doente, conseguindo publicar Os Lusíadas
em 1572 graças à influência de alguns amigos junto do rei D. Sebastião. Faleceu
em Lisboa no dia 10 de junho de 1580. É considerado o maior poeta português,
situando-se a sua obra entre o Classicismo e o Maneirismo. Obras: "Os
Lusíadas" (1572), "Rimas" (1595), "El-Rei Seleuco" (1587),
"Auto de Filodemo" (1587) e "Anfitriões" (1587).
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