sábado, 26 de dezembro de 2015

Frases e texto de Luis Fernando Veríssimo



Espelho

O mundo é como um espelho que devolve a cada pessoa o reflexo de seus próprios pensamentos. A maneira como você encara a vida é que faz toda diferença.

Medo

Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.

Filhos

A verdade é que a gente não faz filhos. Só faz o layout. Eles mesmos fazem a arte-final.

Brasil

Brasil: esse estranho país de corruptos sem corruptores.

Casamento

Quando o casamento parecia a caminho de se tornar obsoleto, substituído pela coabitação sem nenhum significado maior, chegam os gays para acabar com essa pouca-vergonha.

Perguntas e Respostas

Quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas.

Vento

Os tristes acham que o vento geme; os alegres acham que ele canta.

Amor

Não deixe de acreditar no amor, mas certifique-se de estar entregando seu coração para alguém que dê valor aos mesmos sentimentos que você dá, manifeste suas ideias e planos, para saber se vocês combinam e certifique-se de que quando estão juntos, aquele abraço vale mais que qualquer palavra.

Detalhes

Com o tempo, os detalhes estragam qualquer biografia.

Praga

A diferença entre a Argentina e a República Checa é que a República Checa tem o governo em Praga e a Argentina tem essa praga no governo.

Religião

As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas.

Mundo

O mundo não é ruim, só está mal frequentado.

Livre

Mas eu desconfio que a única pessoa livre, realmente livre, é a que não tem medo do ridículo.

Poço

No Brasil o fundo do poço é apenas uma etapa.

Reencarnação

Não vejo vantagem na reencarnação, a não ser que conte tempo para o INSS.

Desilusão

Ainda pior do que a desilusão de um não ou a incerteza de um talvez, é a desilusão de um quase.

Honestidade

Tem muita gente honesta neste país. Só não se identificam para não ficar de fora se aparecer um bom negócio.

Sentir Falta

No fim, o que a gente mais sente falta do passado é o seu futuro.

Otários

Não somos otários, como pensam. Somos hipócritas. Isto é, otários conscientes, otários assumidos, otários porque o contrário seria sucumbir ao amoralismo dos outros.

Iceberg

Ninguém é o que parece ou o que aparece. O essencial não há quem enxergue. Todo mundo é só a ponta do seu iceberg.

Acusadores

Não viro a cara para meus acusadores, embora eles só mereçam desprezo, mas os enfrento com um olhar límpido como minha consciência e um leve sorriso no canto da boca.

Descanso

No começo, Deus criou o mundo e descansou. Então, Ele criou o homem e descansou. Depois, criou a mulher. Desde então, nem Deus, nem o homem, nem o Mundo, tiveram mais descanso.

*****

O fim

Deus reuniu seu staff e anunciou: o mundo vai acabar.

Todos se entreolharam. Como, acabar?

– Acabar – disse Deus. – Não vai ter mais. Ponto final. The end. Finito.

– Mas Senhor... – começou a dizer um dos assessores.

– Cansei – interrompeu–o Deus. – No princípio ainda foi divertido. A fase da criação. O dia. A noite. Os bichos. Tudo era novo. Tudo era a primeira vez. E eu era mais jovem, tinha o entusiasmo e o otimismo dos jovens. Agora não tenho mais saco. E a humanidade me decepcionou. Ela não é nada do que eu tinha planejado Desperdicei meus melhores efeitos numa humanidade que nunca soube apreciar minha obra. Muitos até duvidam que ela seja minha.

Todos haviam reparado que Deus andava mesmo meio irritadiço. Manifestava sua irritação com o tempo, com os excessos de calor num hemisfério e de frio no outro, com furacões fora de hora, com secas inclementes e enchentes catastróficas. Acordava de manhã e a primeira coisa que pedia, antes do iogurte, era “Um cataclismo, rápido! Não importa onde”.

– Como será o fim, Senhor?

– Com um estrondo. Pum, e fim. Eles não vivem falando no tal Big Bang, que teria siso o começo de tudo, e não Eu? Pois agora eles vão ver um Big Bang.

– Senhor, quem sabe outro dilúvio? Assim o Senhor se livraria da humanidade, mas preservaria os bichos, e poderia começar tudo de novo...

– Nah... – disse Deus. – Já posso ver o que correria de propina na disputa para construir outra arca. Com Noé foi assim. Pensei que era um homem honrado, e foi outra decepção. Ou alguém não sabe que depois do dilúvio ele abriu uma conta numa off–shore com o dinheiro que ganhou da empreiteira? Nada de arca. Vai ser pum, e pronto.

– Mas Senhor, tem que haver algum tipo de solenidade no fim do mundo...

– Como o quê, por exemplo?

– Um espetáculo. Afinal, se tratará de uma apoteose. Da última apoteose. O que o Senhor acha?

– Hmmmm. Desde que não tenha mímica. Eu odeio mímica.

– Seria um espetáculo musical. Uma sinfonia final, acompanhada de fogos de artifício, mil músicos, um balé com mil bailarinas... E, claro, o Cirque du Soleil. Encomendaríamos a sinfonia de um dos nossos compositores.

– Quem é que nós temos?

– É só escolher! Temos Mozart, temos Beethoven... Imagine uma Sinfonia do Fim do Mundo escrita pelo Beethoven!

– Ele toparia?

– Por que não? Não está fazendo nada. E se ele não topar, temos o Wagner!

– Wagner não foi pro inferno?

– Poderíamos propor um empréstimo.

– Wagner não. Tem a questão do antissemitismo. Pegaria mal com a turma do Jeovah, com quem Eu tenho um bom relacionamento.

– Que tal Mahler?

– Mahler! Claro! Sempre me perguntei por que Eu tinha criado o Mahler, e agora Eu sei. Vai ser Mahler!

– Ótimo!

– Mas nada de mímica.

Luís Fernando Veríssimo


Luis Fernando Veríssimo (Porto Alegre, 26 de setembro de 1936) é um escritor brasileiro. Mais conhecido por suas crônicas e textos de humor, mais precisamente de sátiras de costumes, publicados diariamente em vários jornais brasileiros, Veríssimo é também cartunista e tradutor, além de roteirista de televisão, autor de teatro e romancista bissexto. Já foi publicitário e copy desk de jornal. É ainda músico, tendo tocado saxofone em alguns conjuntos. Com mais de 60 títulos publicados, é um dos mais populares escritores brasileiros contemporâneos. É filho do também escritor Érico Veríssimo.

*****

P.S. Já cruzei com o Luís Fernando Veríssimo algumas vezes nos cinemas de Porto Alegre: na sala, na saída ou na entrada de algum filme de bom gosto. Gentil, simpático, sem estrelismo. Ele, sim, é o cara!

Nilo da Silva Moraes


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