Aves almas
As Escrituras Sagradas diferentes
tradições religiosas não raramente lançam mão de metáforas para tornar mais
claro o entendimento das verdades do mundo espiritual.
Metáforas – pontes poéticas que o
amor constrói e que fazem ligação entre coisas e conceitos. E, dentre as
metáforas poéticas que os versos sagrados utilizam, uma das mais belas é uma
passagem dos textos da Fé Bahá’í... Metáforas – pontes poéticas que o amor
constrói e que fazem ligação entre coisas e conceitos, que compara o corpo
físico a uma gaiola, e o espírito a uma ave que nela habita. “Imaginar que o
espírito pereça ao morrer o corpo, é como imaginar que o pássaro morra ao
quebrar-se a gaiola.” “Nosso corpo é apenas a gaiola, enquanto espírito é o pássaro.
Nada tem o pássaro que recear, porém, com a destruição da gaiola.”
A morte física – um mergulho no
infinito, a hora de voar... O suave voo das aves é uma metáfora visual a nos
sussurrar que a alma é livre das limitações impostas pela matéria. Uma metáfora
visual e poética que se revela aos que se dispõem a enxergar além do que os
olhos podem...
Uma metáfora visual e poética que se
revela aos que se dispõem a enxergar além do que os olhos podem... E, ao
deslizar pelo céu, as aves nos recordam dos nossos entes queridos que já
partiram. Todos os que deixaram para trás este mundo de provações e caminhadas,
sonos e vigílias, noites e dias, esperanças... Todos os que deixaram para trás
este mundo de provações e caminhadas, sonos e vigílias, noites e dias, esperanças...
E as aves nos recordam ainda que em
breve também chegará a nossa hora de voar. Da força das asas depende altura a
que se pode chegar... O corpo, frágil argila, sofre os efeitos do tempo. A
alma, puro sopro, é eterna. A alma, puro sopro, é eterna. Aproveitar os nossos
breves e incertos dias para alimentar a nossa alma com coisas boas. Uma dieta
espiritual farta de Amor e Bondade, Caridade, Pureza, Compaixão, Perdão e Justiça.
Virtudes, Gratidão, Bem-Aventuranças. De modo que, quando a hora derradeira
bater à nossa porta, possamos voar com asas limpas e puras até as mais sublimes
alturas.
O rabino Henry Sobel, por ocasião da
morte de Mário Covas, contou a seguinte parábola:
Partida e Chegada
Quando observamos, da praia, um veleiro a afastar-se da costa, navegando
mar adentro, impelido pela brisa matinal, estamos diante de um espetáculo de
beleza rara. O barco, impulsionado pela força dos ventos, vai ganhando o mar
azul e nos parece cada vez menor. Não demora muito e só podemos contemplar um
pequeno ponto branco na linha remota e indecisa, onde o mar e o céu se
encontram. Quem observa o veleiro sumir na linha do horizonte, certamente
exclamará: “Já se Foi! Terá sumido? Evaporado?”. Não, certamente. Apenas o
perdemos de vista. O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma capacidade que
tinha quando estava próximo de nós. Continua tão capaz quanto antes de levar ao
porto de destino as cargas recebidas. O veleiro não evaporou, apenas não o
podemos mais ver. Mas ele continua o mesmo. E, talvez, no exato instante em que
alguém diz: “Já se foi”, haverá outras vozes, mais além, a afirmar: “Lá vem o
veleiro!”... Assim é a morte.
Quando o veleiro parte, levando a preciosa carga de um amor que nos foi caro, e o vemos sumir na linha que separa o visível do invisível dizemos: “Já se foi!. Terá sumido? Evaporado?”. Não, certamente. Apenas o perdemos de vista. O ser que amamos continua o mesmo, suas conquistas persistem dentro do mistério divino. Nada se perde, a não ser o corpo físico de que não mais necessita. E é assim que, no mesmo instante em que dizemos: “Já se foi.”, no além, outro alguém dirá: “Já está chegando!”. Chegou ao destino levando consigo as aquisições feitas durante a vida. Na vida, cada um leva sua carga de vícios e virtudes, de afetos e desafetos, até que se resolva por desfazer-se do que julgar desnecessário.
A
vida é feita de partidas e chegadas. De idas e vindas. Assim, o que para uns
parece ser a partida, para outros é a chegada. Assim, um dia, todos nós
partimos como seres imortais que somos todos nós ao encontro Daquele que nos
criou.
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