– E aí, como
foi de feriado? Foi à praia?
– Fui, mas foi um horror. Só
confusão.
– Como assim?
– Bom, minha amiga emprestou a casa
dela no Guarujá, lá fomos nós. Sol a pino, céu azul, parecia que ia ser um belo
fim de semana... Já entrando na rodovia, um incidente.
– Bateram o
carro?
– Não, uma blitz. Um cara nos
parou, disse que tinha um farol quebrado.
– E tinha?
– Uma lasquinha só.
No uniforme dele tava escrito
“agente da mobilidade urbana”.
– Que p... é essa?
– Isso mesmo que você ouviu.
Guarda nada, agente da mobilidade urbana.
– Multou?
– Não, Arnaldo argumentou com ele,
falou que raspou na garagem, que ia consertar, mas esqueceu... Enfim, safou-se.
– Ainda bem,
ninguém merece, né?
– Aí, mal chegamos lá, o irmão
do Arnaldo aparece, bêbado.
– Xi!
– Chamou meu marido de lado e começou
o maior blábláblá... Perguntou se podia ficar lá na casa também... E já foi
pedindo dinheiro emprestado, disse que tava “negativado”.
– Que p... é
essa?
– Tava duro, quebrado, mas pra
sensibilizar o irmão usou palavra bonita.
– Vixe!
– Aí fomos pra praia. Com um sol daqueles... Resolvi
cair no mar.
– Delicioso?
– Nada. Já veio um salva-vidas e me
disse que a praia tava com baixo nível de “balneabilidade”.
– Que p... é
essa?
– É assim tipo... a praia não
tá boa pra banho, sabe?
– Mas precisa de um palavrão
desse?
– Pois é. Aí resolvemos ir a um
restaurante de frutos do mar. Você sabe, Arnaldo é doido por caranguejo... Lá
fomos nós.
– Bom?
– Uma delícia, mas...
– Mas o quê?
– Clara, minha caçula, passou mal,
teve uma intoxicação. Lá fomos todos pro pronto-socorro.
– Meu Deus,
que zica, hein?
– Pois é. Tomou soro, o doutor deu
remedinho e pediu pra eu passar uma semana fazendo um tal de “recordatório
alimentar”.
– Que p... é
essa?
– É tipo um relatório de tudo que
come. Pra saber se foi só uma coisa eventual ou se ela tem um problema alérgico
grave.
– Que coisa!
– Aí falei, não, quero um café.
Fui a um café e pedi um expresso.
– Um café nessas horas é tudo,
né, amiga?
– Aí vem o garçom e me
pergunta: “Pode ser um café ‘restrito’, senhora?”
– Que p... é essa?
– Ah, é um tipo de café metido
a besta.
– Tomou?
– Tomei. Mas nessa altura eu já
tava p da vida.
– Foi pra casa?
– Não, lá era um cybercafé, tinha o
check-in de uma viagem pra fazer, resolvi fazer logo... Alguma coisa tinha que
dar certo naquele sábado.
– E deu?
– Coisa nenhuma. Fui tentar
imprimir os dados e nada.
– O que aconteceu?
– Apareceu na tela do
computador: “impressão inibida”.
– Que p... é essa?
– E eu lá sei? Só sei que não
consegui imprimir p... nenhuma.
– Que dia, hein?
– É, mas chega, não quero mais
falar disso. E seu feriado, como foi?
– Tranquilo. Mas tomei uma
decisão.
– Qual?
– Vou fazer um curso.
– Nossa, que bom. Qual?
– É um curso de “análise
fundamentalista”.
– Que p... é essa?
– Ah, é um curso de análise
econômica. Preciso voltar a estudar, senão me acomodo.
– Nome mais terrorista!...
In Revista Isto É, 2
de março de 2011
* Zeca Baleiro é
cantor e compositor
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