Uma história do Moacyr Scliar
No livro “Mês de Cães Danados”*, há
anedotas sobre aqueles agitados e deliciosos dias de agosto de 1961 (Época da
Legalidade). Numa manifestação em apoio a Brizola e pela posse de Jango, Moacyr
viu-se ao lado de um colega da faculdade de Medicina. Caiu um toró. O cara
continuou com seu guarda-chuva fechado. “Por que não abre esse guarda-chuva?”,
perguntou, enfim, Scliar, “meio irritado”. A resposta foi de trovejar: “Contra
balas não adiantam guarda-chuvas”.
Scliar, muitos anos depois: “Eu
poderia ter ponderado que contra a chuva, sim, o guarda-chuva adiantaria, mas a
grandiloquência dava o tom, sob o temporal”.
Em outro momento, quando se erguiam
barricadas com bancos virados, ele encontrou um “gurizinho”, que, chorando,
pediu-lhe para dizer aos seus pais, “caso ele tombasse em combate”, esse era o
tom teatralmente revolucionário, “que tinha lutado por uma causa nobre”. Era
Marcos Faerman, que se tornaria um combativo jornalista. O fecho de Scliar é um
riso doce e nostálgico: “Afora os bancos, ninguém tombou. Os tanques não
apareceram, ou porque não tinham saído do quartel, ou porque não conseguiram
chegar ao Centro. E aquele dia terminou, como os outros, com chope no bar”.
* “Mês de cães danados” é um romance de Moacyr Scliar publicado
originalmente em 1977
e vencedor do Prêmio
Brasília de Literatura daquele ano.
Capa do livro:
Brigadianos defendendo o Palácio Piratini,
em Porto Alegre.
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