Foi a 19 de junho de 1924 que Graça
Aranha proferiu na Academia Brasileira a famosa conferência sobre o Espírito Moderno, de que resultaria o
seu rompimento público com a instituição.
Na ânsia de renovar-se, o romancista
de Canaã não hesitaria em tentar alterar as matrizes de seu próprio estilo,
substituindo-lhe o ritmo largo por um ritmo sincopado, de que é exemplo este
excerto de uma de suas páginas modernistas: “Desejo
da Terra: árvore! Espiritualidade da Terra: árvore! Elegância, força, doçura,
fragilidade, eternidade. Folhas: adorno e sentimento. Galhos: defesa, amparo,
agasalho, aspiração, elevação para o Infinito. Postura da árvore: adoração
perpétua, trágica imobilidade. Silêncio. Campo deserto, árvore solitária.
Montanha espectral, árvore, fantasma alucinado”.
Seis dias depois da conferência de
Graça Aranha, Carlos de Laet*, na sua coluna de A Notícia, pôs a
ridículo o companheiro e o seu novo estilo, em três Sonetos Futuristas que valiam, em verdade, pela
melhor troça ao novo movimento literário:
* Carlos Maximiliano Pimenta de
Laet (Rio de Janeiro, 3 de outubro de 1847 - Rio de Janeiro, 7 de dezembro de
1927) foi um jornalista, professor e poeta brasileiro.
Manhã. Frio. Carroças. Quitandeiros.
Futuristas. Ideias. Maluquice.
Bondes tardos. Garis. Parlapatice.
Olho grande. Ambição. Vaia. Ratice.
O Futuro! O Passado! Os açougueiros.
Caminhões de capim. Cubos. Tinteiros.
Pincéis. Palhetas. Tintas. Macaquice.
Olhos em
alvo. Camundongos. Gias.
Gênios. Botas. Botinas e tripeça.
Sapateiros. Amor. Filosofias.
Batatas e cebolas. Nova peça.
A aranha. O Graça. Novas energias.
Café com leite. Futurismo à Beça!
Tarde, Avenida. Gente. Braços nus,
Pequenotas. Decotes. Almofada.
Futuristas. Alvear. Doces. Coalhada.
Deputados. Carniças. Urubus.
O Graça. A claque. O Futurismo. Nada.
Táxi. Bonde. Encontro. Catapruz!
Assistência. Meninos. Pouca luz.
Muita prosa. O Futuro. Pataquada.
Céu verde. Mar de leite. Estela preta.
Mais graça. Mais topete. Lábios azul.
Osório. O velho Alves. A chupeta.
Aranha. Avô. Avó. Ave! Taful!
Ligação. Beira mar. Potoca. Peta.
Telefone. Afinal. Setenta sul!...
Noite. Calor. Concerto nos telhados.
Cubos esferoidais. Gatas e gatos.
Vênus. Graças. Aranhas. Carrapatos.
Melindrosas. Poetas assanhados.
Rabanetes azuis. Sóis encarnados.
Comida no alguidar. Cuspo nos pratos.
Três rondas a cavalo. Mil boatos.
Prosa sesquipedal. Tropos safados.
Avenida deserta. Bondes. Brama.
Chopes Fidalga. Leite. Pão de ló.
Carros de irrigação. Salpicos. Lama.
Vacas magras. Esfinge. Triste. Só.
Tumor mole. São Paulo. Telegrama.
Dois secretas. Cubismo. Xilindró.
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