quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Vida

Cíntia Melo Primo


Queria ser mulher
Não neguei o sexo
Do homem faminto
Preparei meu corpo
Repensei meu ciclo
Aproveitei o óvulo maduro
Promovi o nascimento
A possibilidade fremente
Ofereci ao mundo
Meu ventre sadio.

Nasci bicho fêmea
Concebi
Acolhi no colo
Dei de mamar
As tetas robustas, febris
Fartas de leite
Não contive o riso
A alegria indecifrável
Amei a cria
Cumpri o milagre da vida.

Passou o tempo
Cansei-me da lida
Das regras dos homens
Da culpa insistente
Repetindo o choro
Na noite clara
Meu corpo cansado
Doente de sono.

Queria é ser mulher parida
Cem anos atrás
Amar meus rebentos
Nutrir todos eles
De leite, de amor
Depois, sem culpa
Dormir meu resguardo.




Nenhum comentário:

Postar um comentário