Cíntia Melo
Primo
Queria ser mulher
Não neguei o sexo
Do homem faminto
Preparei meu corpo
Repensei meu ciclo
Aproveitei o óvulo maduro
Promovi o nascimento
A possibilidade fremente
Ofereci ao mundo
Meu ventre sadio.
Nasci bicho fêmea
Concebi
Acolhi no colo
Dei de mamar
As tetas robustas, febris
Fartas de leite
Não contive o riso
A alegria indecifrável
Amei a cria
Cumpri o milagre da vida.
Passou o tempo
Cansei-me da lida
Das regras dos homens
Da culpa insistente
Repetindo o choro
Na noite clara
Meu corpo cansado
Doente de sono.
Queria é ser mulher parida
Cem anos atrás
Amar meus rebentos
Nutrir todos eles
De leite, de amor
Depois, sem culpa
Dormir meu resguardo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário