sábado, 17 de outubro de 2015

Uma história do Mestre Cartola



Cartola por Biratan

Cartola teve um amor em sua vida que quase o destruiu, chegou a parar de compor e até (que pecado) deixou de tocar violão. Cartola mantinha-se passivamente ao lado de uma mulher que não o amava mais, contentando-se com as sobras daquele amor. Bebendo pra esquecer. Por isso evitava a Mangueira. Por vergonha, talvez.

Quem conseguiu, finalmente, tirá-lo desta fossa foram o bom senso de Carlos Cachaça e o novo amor que chegou, na pessoa da pastora Zica. Cartola estava destruído: magro, sem dentes, aquele narigão enorme, “feio pra caramba”, bebendo feito uma esponja. Zica revela, sorrindo: “Mas eu quis ele assim mesmo!”

Zica representou, sem a menor sombra de dúvida, a grande alvorada na vida do Mestre Cartola que, anos depois, ao dedicar-lhe o samba Tive, sim, não deixou, com toda a honestidade que o caracterizava, de fazer referência à nefasta Donária, a mulher que ela amou e que quase o destruiu.

(Música que Cartola fez para Dona Zica)


Tive, sim*

Tive, sim,
Outro grande amor antes do teu
Tive, sim.
O que ela sonhava
Eram os meus sonhos
E assim,
Íamos vivendo em paz,
Nosso lar,
Em nosso lar sempre houve alegria,
Eu vivia tão contente
Como contente ao teu lado estou.
Tive, sim,
Mas comparar com teu amor
Seria o fim
E vou calar,
Pois não pretendo, amor, te magoar.

(Extraído do livro “Cartola os tempos idos”,
de Marília Barboza da Silva e Arthur de Oliveira Filho. Editora Gryphus.)

*Esse samba, na minha opinião, é um dos mais lindos da MPB. Vale a pena escutá-lo.


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