Canção do Rouxinol
Num dia de calor, uma coluna de
soldados alemães, exaustos e suarentos, fez alto para descansar, junto às
ruínas de uma vila arrasada, na Lituânia. Subitamente, vibrou no ar o canto de
um rouxinol. Os alemães observaram com seus binóculos a mata vizinha, mas não
puderam descobrir o pássaro. Viram, entretanto, sentado perto de uma vala, um
menino que assobiava. Ao se aproximarem os alemães, o menino olhou-os como se
tivesse medo, ao mesmo tempo em que movia alguma coisa dentro da boca. Um dos
oficiais quis ver o que era, e o rapaz mostrou-lhe um silvo, feito à mão, com
que ele imitava o canto do rouxinol. Os alemães admiraram o silvo, elogiaram o
engenho do menino, persuadindo-o a assobiar mais. “Eu também sei imitar o
cuco,” disse ele, o que provou logo com grande orgulho.
Interrogado, o rapazinho declarou que
vivia ali, sozinho entre as ruínas da melhor maneira possível. Sim, ele
conhecia a estrada para a vila próxima: É a estrada que eu usava, para ir ao
moinho.”
O comandante da coluna nazista
prometeu ao menino um bonito isqueiro de metal, se ele servisse de guia. “Mas
se você me enganar, torço-lhe o pescoço,” advertiu o oficial.
Já a caminho, o oficial apontou para
o bosque que ficava adiante. “Há guerrilhas por ali?”, indagou ele. “Cogumelos,
que o senhor dizer?” foi a inocente resposta do rapaz, o qual começou logo a
enumerar todos os gêneros de plantas que cresciam nos arredores. O oficial não
fez mais perguntas.
De bom humor, o menino começou a
assobiar de novo – trinta e duas vezes como um rouxinol, e duas vezes com cuco.
Os alemães, bastante agradados com a jovialidade do guia, iam marchando. Mas,
de tocaia no bosque, os guerrilheiros sabiam muito bem a significação dos
gorjeios que ouviam = trinta e dois soldados alemães iam pela estrada com duas
metralhadoras.
Uma vez chegados ao bosque, o rapaz,
ligeiro como uma lebre, meteu-se por entre as árvores. Das ramagens da mata,
veio uma chuva de balas. Não ficou um só alemão para contar a história.
Maurice Hindus –
Herald Tribune
Seleções de Reader´s
Digest – setembro de 1943
Nenhum comentário:
Postar um comentário