sábado, 12 de setembro de 2015

Um conto da II Guerra Mundial

Canção do Rouxinol


Num dia de calor, uma coluna de soldados alemães, exaustos e suarentos, fez alto para descansar, junto às ruínas de uma vila arrasada, na Lituânia. Subitamente, vibrou no ar o canto de um rouxinol. Os alemães observaram com seus binóculos a mata vizinha, mas não puderam descobrir o pássaro. Viram, entretanto, sentado perto de uma vala, um menino que assobiava. Ao se aproximarem os alemães, o menino olhou-os como se tivesse medo, ao mesmo tempo em que movia alguma coisa dentro da boca. Um dos oficiais quis ver o que era, e o rapaz mostrou-lhe um silvo, feito à mão, com que ele imitava o canto do rouxinol. Os alemães admiraram o silvo, elogiaram o engenho do menino, persuadindo-o a assobiar mais. “Eu também sei imitar o cuco,” disse ele, o que provou logo com grande orgulho.

Interrogado, o rapazinho declarou que vivia ali, sozinho entre as ruínas da melhor maneira possível. Sim, ele conhecia a estrada para a vila próxima: É a estrada que eu usava, para ir ao moinho.”

O comandante da coluna nazista prometeu ao menino um bonito isqueiro de metal, se ele servisse de guia. “Mas se você me enganar, torço-lhe o pescoço,” advertiu o oficial.

Já a caminho, o oficial apontou para o bosque que ficava adiante. “Há guerrilhas por ali?”, indagou ele. “Cogumelos, que o senhor dizer?” foi a inocente resposta do rapaz, o qual começou logo a enumerar todos os gêneros de plantas que cresciam nos arredores. O oficial não fez mais perguntas.

De bom humor, o menino começou a assobiar de novo – trinta e duas vezes como um rouxinol, e duas vezes com cuco. Os alemães, bastante agradados com a jovialidade do guia, iam marchando. Mas, de tocaia no bosque, os guerrilheiros sabiam muito bem a significação dos gorjeios que ouviam = trinta e dois soldados alemães iam pela estrada com duas metralhadoras.

Uma vez chegados ao bosque, o rapaz, ligeiro como uma lebre, meteu-se por entre as árvores. Das ramagens da mata, veio uma chuva de balas. Não ficou um só alemão para contar a história.

Maurice Hindus – Herald Tribune

Seleções de Reader´s Digest – setembro de 1943



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