sábado, 5 de setembro de 2015

Calouros em desfile


TV Tupi (RJ) - Década de 1950


Ari Barroso, o gongo e Macalé*

No inicio dos anos 1950, Ari Barroso abandona a política e vai para a TV Tupi onde comanda dois programas: Calouros em desfile e Encontro com Ari. Inicia também sua carreira de locutor esportivo irradiando corridas de automóveis no Circuito da Gávea e mais tarde partidas de futebol.

Neste programa, Ari Barroso batia em um enorme gongo quando escolhia um candidato.

E quem era o Macalé?


* (Tião) Macalé → Augusto Temístocles da Silva Costa, mais conhecido como Tião Macalé, (Rio de Janeiro, 17 de dezembro de 1926 – São José do Rio Preto, 26 de outubro de 1993) foi um humorista brasileiro, célebre por suas participações no programa Os Trapalhões. Com sotaque característico, era conhecido pelo bordão “Ih, Nojento, tchan!”.

Na década de 1960, trabalhou com Ari Barroso, no programa Show do Gongo (TV Rio), onde ao comando de Ari, "gongava" as pessoas.

Ficou nacionalmente conhecido no programa humorístico Balança mas Não Cai, como o “crioulo difícil” ao lado da atriz Marina Miranda, a "crioula difícil". Tião Macalé era personagem de poucas falas, tendo inclusive alguma dificuldade na articulação das palavras, fato que aumentava ainda mais a sua eficiente performance como humorista.

Histórias de Ari Barroso

(Umas são verdadeiras; outras, nem tanto...)

No show Eu sou o espetáculo, José Vasconcelos imitava Ari Barroso, no momento em que este estaria recebendo um candidato em seu programa de Calouros em desfile:
Ari:
– O que você vai cantar?
Calouro:
– Vou cantar um sambinha.
Ari:
– É sempre assim. Se fosse mambo, não seria um mambinho. Se fosse bolero, não seria um bolerinho. Mas samba é um sambinha. E que sambinha o senhor vai cantar?
Calouro:
– Aquarela do Brasil.


Algumas vezes era o calouro que derrubava o apresentador.
Ari:
– O que o senhor vai cantar?
Calouro:
– Escrava Isaura.
Ari:
– E quem são os autores desta Escrava Isaura? Aqui toda música tem autor.
Calouro:
– Ari Barroso.
Ari:
– Quem?
Calouro:
– Ari Barroso, sim senhor.
Ari:
– Sendo assim, vamos todos conhecer Escrava Isaura, de Ari Barroso.
Calouro (cantando):
– “Quem se deixou Escrava Isaura...”*

* “Quem se deixou escravizar...”


Outro calouro resolveu cantar um sucesso recente, Se todos fossem iguais a você.
Ari:
– E os autores? Quem são os autores?
Calouro:
– Vinicius de Moraes.
Ari:
– E o Tom?
Calouro:
– Lá maior.


Um dos mais famosos diálogos de Ari Barroso e Antônio Maria ocorreu na Cantina Sorrento na presença de um numeroso grupo de boêmios (uma versão mais repetida diz que o bate-papo ocorreu na casa de Ari, num dia que Maria foi visitá-lo quando ele (Ari) já se achava muito doente. Mas foi mesmo na Sorrento). Ari Barros perguntou:
 Na sua opinião, Maria, qual foi o meu maior sucesso?
 Sei lá - respondeu o cronista, arriscando, em seguida, um palpite: – Deve ser Aquarela do Brasil.
 Então, me faz um favor - pediu Ari. - Canta Aquarela do Brasil.
Antônio Maria achou ridículo o pedido, mas Ari tanto insistiu que acabou cantando:
 “Brasil, meu Brasil brasileiro/Meu mulato inzoneiro/Vou cantar-te nos meus versos...”
 Ótimo – cortou Ari Barroso. - Pergunta pra mim qual foi o seu maior sucesso.
 Está bem, Ari. Qual foi o meu maior sucesso?
 Ninguém me ama. Agora, me peça para cantar Ninguém me ama.
Embora desconfiado, Antônio Maria pediu:
 Canta Ninguém me ama.
 Não sei – berrou, provocando imensa gargalhada de todos os presentes.

(Do livro “No tempo de Ari Barroso”, de Sérgio Cabral)


Ari e outras histórias
                                                                                     
Um dia, no programa, um pretinho se apresenta, Ari pergunta:
 Que música o senhor vai cantar?
 Aquarela do Brasil, de Ari Barroso.
 Muito bem! Vamos lá então.
O calouro:
 “Brasil, meu Brasil brasileiro, meu mulato inzoneiro, vou cantar-te nos meus velsos...”
Quando soa o gonzo e Ari, zangado, ao candidato:
 O senhor pode até cantar nos seus velsos, mas nos meus versos não canta não!


Outro candidato, um músico se apresenta no programa.
Ari:
– Que acompanhamento o senhor vai precisar?
Calouro:
– Um pandeirista.
Ari:
– Que venha um pandeirista.
Calouro ao pandeirista:
– Atenção, lá maior.


A hoje cantora famosa Elza Soares vai se apresentar no Calouros em desfile e consegue emprestado um vestido maior do que ela. Faz algumas adaptações e vai ao programa. Ari, ao ver aquela figura franzina e com um vestido esquisito, pergunta à jovem:
 De planeta você veio, minha filha?
 Do planeta fome, seu Ari.
Elza cantou, foi aprovada com a nota máxima e se tornou, a parti daí, uma grande cantora da MPB.


Um dia, uma senhora, muito fã de Ari Barroso, reclamou com ele pelo fato do compositor nunca ter escrito nada em homenagem à sua cidade natal, Ubá, no interior de Minas Gerais.
− Como não, minha senhora?
E Ari canta para ela uma parte do samba-canção “Risque”, dele mesmo:

Mas se algum dia, talvez,
A saudade apertar.
Não se perturbe,
Afogue a saudade
Nos copos de Ubá.*

* Na letra: um bar


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