Bruno Seabra*
-
Moreninha, dás-me um beijo.
- E o
que me dá, meu senhor?
- Este
cravo...
- Ora,
esse cravo!
De
que me serve uma flor?
Há tantas flores nos
campos!
Hei
de agora, meu senhor,
Dar-lhe
um beijo por um cravo?
É
barato; guarde a flor.
-
Dá-me o beijo, moreninha,
Dou-te
um corte de cambraia.
- Por
um beijo tanto pano!
Compro
de graça uma saia!
Olhe
que perdes na troca,
Como
eu perdera com a flor;
Tanto
pano por um beijo...
Sai-lhe
caro, meu senhor.
- Anda
cá... ouve um segredo...
- Ai,
pois quer fiar-se em mim?
Deus
o livre; eu falo muito,
Toda
mulher é assim...
E
um segredo... ora um segredo...
Pelos
modos que lhe vejo
Queres
o meu beijo de graça,
Um
segredo por um beijo?!
-
Quero dizer-te aos ouvidos
Que
tu és uma rainha...
- Achas,
pois? e o que tem isso?
Queres
ser rei, por vida minha?
- Quem
dera que tu quisesses...
- Não
duvides, que o farei;
Meu
senhor, case com ela,
A
rainha o fará rei...
-
Casar-me?... ainda sou tão moço...
- Como
é criança esta ovelha!
Pois
eu pra beijar crianças,
Adeusinho,
já sou velha.
(Do livro “Antologia
de humorismo e sátira”, de R. Magalhães Junior)
* Bruno de Henrique Seabra, que
ao mesmo tempo que Machado de Assis, colaborava na Marmota Fluminense e Semana
Ilustrada. Morreu no ano de 1876.
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