Vários livros foram escritos por
pesquisadores sérios a respeito da Guerra dos Farrapos.
Sugiro, aos amigos, a leitura do
livro História Regional da Infâmia, do gaúcho Juremir Machado da Silva.
Juremir é hoje, a meu juízo, o maior
intelectual em atividade (produção de ideias) no Sul do Brasil. Juremir e sua
equipe analisaram 15.000 documentos a respeito do conflito.
Do seu livro
é possível tirar as seguintes conclusões:
01. Irrelevância do Movimento Farroupilha. Do conflito, que durou 10
anos, apenas 2.800 almas perderam a vida. Para ser ter uma ideia, a Guerra de
Canudos, de Antônio Conselheiro, ceifou a vida de 8.000 almas e a Guerra do
Contestado (1912 a 1916), onde caboclos lutaram pela garantia do seu pedaço de
chão, 20.000 homens e mulheres pereceram.
02. Movimento Separatista. Os farroupilhas, no início do movimento,
estavam acertados com o governo do Uruguai para a criação de um novo país onde
o Rio Grande do Sul, o Uruguai e parte da Argentina (até a província de Entre
Rios) formariam um novo País riquíssimo em pastagens onde os estancieiros
poderiam criar livremente o seu gado. No final do conflito, as condições
políticas no Uruguai se modificaram e a ideia separatista foi abandonada.
03. Falta de apoio popular. Na época da Guerra dos Farrapos, o Rio
Grande tinha 14 municípios, sendo os três mais importantes Porto Alegre,
Pelotas e Rio Grande. Nenhum destes três municípios apoiou o movimento farrapo.
04. Movimento Escravocrata. Os farroupilhas eram essencialmente
escravocratas. Para ser ter uma ideia, a renda familiar de Bento Gonçalves,
durante o conflito, foi o aluguel de seus 53 escravos a famílias abastadas da
aristocracia ruralista de Montevidéu. Ao término do conflito, todos retornaram
para a sua fazenda em São
Gabriel na condição de escravos.
05. Expropriações e Roubos. A receita das tropas farroupilhas era
oriunda da venda do gado e dos escravos expropriados (roubados) dos
estancieiros contrários a Guerra dos Farrapos.
06. Lanceiros Negros. Aos escravos negros jovens e fortes, em condição
de combater em favor dos farroupilhas, era oferecida a possibilidade da
alforria, desde que, ao final, os farroupilhas fossem os vencedores da
contenda. Estes, sim, lutaram com determinação, porque tinham uma causa nobre
onde valia a pena arriscar a própria vida. Não é à toa que a maioria das 2.800
baixas no conflito foi formada pelos lanceiros negros. Os negros formavam a
infantaria e mesmo descalços e sem montaria se atiravam sobre as tropas
imperiais, enquanto nossos “bravos”, a cavalo, assistiam a contenda montados em
seus alazões. Ao término da batalha, quando a tropa acampava, estes negros eram
segregados do restante da tropa e acampavam em locais distintos. Afinal, não
era lícito se misturar com esta “gente inferior“. “Sirvam Nossas Façanhas de
Modelo a Toda a Terra” é o que diz o hino.
07. O Hino. A letra do hino dos farroupilhas (rio-grandense) foi
escrito por um prisioneiro mineiro e a música é uma variação de uma composição
de Mozart (Wolfgang Amadeus Mozart, compositor austríaco), portanto um plágio.
08. O fim do conflito. Os primeiros cinco anos foram de combates e os
cinco anos restantes foram inteiramente dedicados pela liderança farroupilha na
busca de uma solução que lhes desse anistia por conta dos crimes cometidos
durante o conflito. O Império relutava em conceder a anistia tal o grau de
banditismo cometido no período e, também, havia a questão dos lanceiros negros
que (justiça seja feita) os farroupilhas insistiam em obter a sua alforria. O
Império não aceitava em nenhuma hipótese conceder a alforria aos lanceiros
negros pelo efeito que poderia ter ao restante do Império.
09. A Traição de Porongos. Ao final do conflito, estavam os lanceiros
negros segregados do restante da tropa quando o General David Canabarro (Maçom)
sob o pretexto que as armas se encontravam com a mira desnivelada e a munição
úmida, desarmou os lanceiros negros. Dias depois, pela madrugada, as tropas
imperiais caíram sobre os lanceiros negros e promoveram uma carnificina.
Restaram vivos 110 lanceiros negros que foram levados cativos até o Rio de
Janeiro, onde continuaram a trabalhar como escravos. “Sirvam Nossas Façanhas de
Modelo a Toda a Terra”.
10. Corrupção generalizada. O Ministério da Fazenda do governo da
República de Piratini era um Deus nos acuda. Toda vez que um General
farroupilha passava pelo Tesouro, tratava de esvaziá-lo. Era acusação para todo
o lado. Os generais se acusavam mutuamente.
11. Duelo entre primos. De tanto acusar Bento Gonçalves (maçom) de
ladrão, este decidiu desafiar em duelo o também maçom Onofre Pires. Este último,
em virtude de ferimentos recebidos no embate, acabou por perder a vida.
12. A Rendição de Ponche Verde. O alardeado acordo de paz de Ponche
Verde jamais existiu. Nenhuma autoridade do Império esteve presente no local. O
documento foi assinado unilateralmente pelos farroupilhas que, graças à
intervenção de Caxias, haviam, finalmente, conseguido a anistia para os seus
crimes. O documento depois de assinado foi entregue para Caxias.
13. Da vergonha para a glória. Bento Gonçalves, após o conflito, voltou
para a sua fazenda em Pedras
Brancas , onde morreu dois anos depois. Durante meio século,
não se falava sobre a Guerra dos Farrapos no Rio Grande do Sul, pela vergonha
dos excessos cometidos. Inesperadamente, no final do século XIX, tem início o
processo de transformação daquelas figuras em heróis.
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