domingo, 16 de agosto de 2015

A Guerra dos Farrapos



Vários livros foram escritos por pesquisadores sérios a respeito da Guerra dos Farrapos.

Sugiro, aos amigos, a leitura do livro História Regional da Infâmia, do gaúcho Juremir Machado da Silva.

Juremir é hoje, a meu juízo, o maior intelectual em atividade (produção de ideias) no Sul do Brasil. Juremir e sua equipe analisaram 15.000 documentos a respeito do conflito.

Do seu livro é possível tirar as seguintes conclusões:

01. Irrelevância do Movimento Farroupilha. Do conflito, que durou 10 anos, apenas 2.800 almas perderam a vida. Para ser ter uma ideia, a Guerra de Canudos, de Antônio Conselheiro, ceifou a vida de 8.000 almas e a Guerra do Contestado (1912 a 1916), onde caboclos lutaram pela garantia do seu pedaço de chão, 20.000 homens e mulheres pereceram.

02. Movimento Separatista. Os farroupilhas, no início do movimento, estavam acertados com o governo do Uruguai para a criação de um novo país onde o Rio Grande do Sul, o Uruguai e parte da Argentina (até a província de Entre Rios) formariam um novo País riquíssimo em pastagens onde os estancieiros poderiam criar livremente o seu gado. No final do conflito, as condições políticas no Uruguai se modificaram e a ideia separatista foi abandonada.

03. Falta de apoio popular. Na época da Guerra dos Farrapos, o Rio Grande tinha 14 municípios, sendo os três mais importantes Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande. Nenhum destes três municípios apoiou o movimento farrapo.

04. Movimento Escravocrata. Os farroupilhas eram essencialmente escravocratas. Para ser ter uma ideia, a renda familiar de Bento Gonçalves, durante o conflito, foi o aluguel de seus 53 escravos a famílias abastadas da aristocracia ruralista de Montevidéu. Ao término do conflito, todos retornaram para a sua fazenda em São Gabriel na condição de escravos.

05. Expropriações e Roubos. A receita das tropas farroupilhas era oriunda da venda do gado e dos escravos expropriados (roubados) dos estancieiros contrários a Guerra dos Farrapos.

06. Lanceiros Negros. Aos escravos negros jovens e fortes, em condição de combater em favor dos farroupilhas, era oferecida a possibilidade da alforria, desde que, ao final, os farroupilhas fossem os vencedores da contenda. Estes, sim, lutaram com determinação, porque tinham uma causa nobre onde valia a pena arriscar a própria vida. Não é à toa que a maioria das 2.800 baixas no conflito foi formada pelos lanceiros negros. Os negros formavam a infantaria e mesmo descalços e sem montaria se atiravam sobre as tropas imperiais, enquanto nossos “bravos”, a cavalo, assistiam a contenda montados em seus alazões. Ao término da batalha, quando a tropa acampava, estes negros eram segregados do restante da tropa e acampavam em locais distintos. Afinal, não era lícito se misturar com esta “gente inferior“. “Sirvam Nossas Façanhas de Modelo a Toda a Terra” é o que diz o hino.

07. O Hino. A letra do hino dos farroupilhas (rio-grandense) foi escrito por um prisioneiro mineiro e a música é uma variação de uma composição de Mozart (Wolfgang Amadeus Mozart, compositor austríaco), portanto um plágio.

08. O fim do conflito. Os primeiros cinco anos foram de combates e os cinco anos restantes foram inteiramente dedicados pela liderança farroupilha na busca de uma solução que lhes desse anistia por conta dos crimes cometidos durante o conflito. O Império relutava em conceder a anistia tal o grau de banditismo cometido no período e, também, havia a questão dos lanceiros negros que (justiça seja feita) os farroupilhas insistiam em obter a sua alforria. O Império não aceitava em nenhuma hipótese conceder a alforria aos lanceiros negros pelo efeito que poderia ter ao restante do Império.

09. A Traição de Porongos. Ao final do conflito, estavam os lanceiros negros segregados do restante da tropa quando o General David Canabarro (Maçom) sob o pretexto que as armas se encontravam com a mira desnivelada e a munição úmida, desarmou os lanceiros negros. Dias depois, pela madrugada, as tropas imperiais caíram sobre os lanceiros negros e promoveram uma carnificina. Restaram vivos 110 lanceiros negros que foram levados cativos até o Rio de Janeiro, onde continuaram a trabalhar como escravos. “Sirvam Nossas Façanhas de Modelo a Toda a Terra”.

10. Corrupção generalizada. O Ministério da Fazenda do governo da República de Piratini era um Deus nos acuda. Toda vez que um General farroupilha passava pelo Tesouro, tratava de esvaziá-lo. Era acusação para todo o lado. Os generais se acusavam mutuamente.

11. Duelo entre primos. De tanto acusar Bento Gonçalves (maçom) de ladrão, este decidiu desafiar em duelo o também maçom Onofre Pires. Este último, em virtude de ferimentos recebidos no embate, acabou por perder a vida.

12. A Rendição de Ponche Verde. O alardeado acordo de paz de Ponche Verde jamais existiu. Nenhuma autoridade do Império esteve presente no local. O documento foi assinado unilateralmente pelos farroupilhas que, graças à intervenção de Caxias, haviam, finalmente, conseguido a anistia para os seus crimes. O documento depois de assinado foi entregue para Caxias.

13. Da vergonha para a glória. Bento Gonçalves, após o conflito, voltou para a sua fazenda em Pedras Brancas, onde morreu dois anos depois. Durante meio século, não se falava sobre a Guerra dos Farrapos no Rio Grande do Sul, pela vergonha dos excessos cometidos. Inesperadamente, no final do século XIX, tem início o processo de transformação daquelas figuras em heróis.


Bento Gonçalves


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