sexta-feira, 31 de julho de 2015

Humor Literário

O sogra do poeta


Os últimos anos da vida de Bernardo Guimarães (acima) foram de recolhimento e de isolamento. Pobre e modesto, depois de haver tentado vários lances da fortuna, vivia em um dos arrabaldes de Ouro-Preto, quando ali o foi visitar Augusto de Lima. No correr da palestra, o romancista da Escrava Isaura falou de si, assinalando o modo por que a sorte paradoxalmente o protegia.
-  O meu destino é de tal ordem, meu amigo, - disse, - que a minha sogra tem o nome de Felicidade!...

O terno do historiador


Entre as figuras de relevo que serviam de alvo habitual à sátira impiedosa de Emílio de Menezes, estava Capistrano de Abreu (acima), historiador ilustre, sábio respeitadíssimo, em torno do qual se criara uma glosadíssima lenda de desleixo, de abandono próprio, e, mesmo, de falta de higiene.
Utilizando esta versão popular, contava o poeta:
- Uma vez o Capistrano mandou à tinturaria, para ser lavado, um terno com que andava há doze anos. Uma semana depois, aparece-lhe à porta um empregado da tinturaria, e entrega-lhe um embrulho pequenino, que lhe cabia na mão.
E como lhe perguntavam o que seria, Emílio concluía, invariável:
Eram os botões, menino!

Regalias militares


Laurindo Rabelo (foto acima), não obstante o descaso de si mesmo, era profundamente orgulhoso. Médico do Exército e íntimo na casa do coronel Tamarindo, havia o poeta chegado à residência deste, em dia festivo, na ocasião, exatamente, em que a mesa das pessoas gradas já se achava completamente cheia.
Não querendo fazê-lo esperar, a dona da casa indicou-lhe um lugar na mesa da gente moça.
Laurindo franziu o rosto.
- Adeus, coronel, - disse, despedindo-se.
E já da porta, ofendido:
- Os médicos do Exército jantam com o Estado-Maior!

 De “bode ler


Frequentador da casa dos Marianos, de que descende Alberto de Oliveira, conheceu Fagundes Varela (acima) um mulato pernóstico, de nome Teodorico. Aliteratado, o pardavasco pediu ao poeta que lhe emprestasse as Flores do Mal.
- Não posso, - recusou Varela, piscando os olhos azuis.
E sem a menor consideração:
- É de Baudelaire; não para “bode ler!”.

Luto de boêmio


O grupo de boêmios de que faziam parte Bilac, Murat, Coelho Neto, Guimarães Passos, Pardal Mallet, Paula Ney e outros, atravessava a sua fase luminosa, quando, um dia, ao chegarem estes à pensão em que morava Aluísio Azevedo (acima), o encontraram com os olhos vermelhos de chorar. Tinha-lhe morrido a mãe no Maranhão, e o romancista, além de outras preocupações, estava a braços com a do luto, impossível na ocasião pela absoluta falta de dinheiro. A única roupa que possuía era um terno cinzento, absolutamente inútil naquela emergência.
Guimarães Passos havia chegado, porém, recentemente de Alagoas, e era dono de um terno preto, destinado a grandes cerimônias. Correu a casa, e trouxe-o, para emprestar ao amigo, enquanto este arranjava outro.
Passou-se, entretanto, o primeiro mês. Passou-se o segundo. Passou o terceiro, e Aluísio sem devolver ao dono o terno preto, em que se metia diariamente. Guimarães Passos não suportou mais a demora; plantou-se, uma tarde, à Rua do Ouvidor, ao lado de Coelho Neto e Alcindo Guanabara, e, à passagem do autor d' O Mulato, que vinha com a sua roupa emprestada, chamou-o:
- Aluísio!
E fazendo-o parar, intimativo:
- É preciso que alivies o luto!...



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