Galpão de estância do extinto
deputado e médico Aramy Silva, na divisa dos municípios de São Borja e
Santiago, no rincão da Encruzilhada. O assunto, naquela manhã invernosa de
chuva, era tamanho de árvore: altura, diâmetro, galharia. principalmente
altura.
- No mato do meu finado avô
– que o Senhor o tenha a seu lado -, havia uma timbaúva que quando era manhã de
cerração a gente não enxergava a galharia, olhando cá de baixo. Quando serraram
ela e a bruta se veio abaixo, abriu um boqueirão no mato. Dois laços de quinze
braças, acolherados, não deram pra medir o tamanho do tronco...
- Deve ser a timbaúva onde
os paraguaios, quando invadiram São Borja, acamparam tudo debaixo dela. E ainda
sobrou sombra.
- Não te fresqueia, rapaz.
Meu pai quase enricou vendendo gamela da dita cuja. Deu mais de duzentas, das
grandes...
- Meu pai comprou uma. Das
melhor. Serviu pra cama de três dos meus irmãos menor...
- Não te fresqueia, aborto
de égua véia. Arrespeita os que têm mais vida do que tu. Tu tá me horrorizando
a história...
-
Ironizando, seu Pulchério. Horrorizar é outra coisa.
- Mas entenderam, pois não
é? Pois vão à puta que os pariu, com licença das mães de vocês...
Coqueiro de trinta metros.
Canafístula de quarenta. Pau-ferro de quarenta e cinco. A reunião estava
animada, a cana corria frouxa, a altura das árvores aumentava como barriga de
prenha.
Tio Xerembe cuspiu pela janela
do galpão. Coçou a carapinha branca, soprou as caspas que lhe ficaram nas unhas
encardidas e se meteu na conversa:
- Vão se cagá tudo vancês
com essas arvezinhas miserável. Com estes óios que a terra há de comer eu vi,
no Cerro do Ouro, quase na costa do Uruguai, um ipê que seu eu contar o tamanho
vão me chamar de mentiroso. Agora, se me chamarem de mentiroso eu capo o
fiadaputa que me afrontar.
- Conte no más, tio Xerembe.
- Conto e juro pelos ossos
da finada. O tal ipê era tão alto, mas tão alto, que bugio pra chegar na última
galhada tinha que levar fiambre para sestear na subida...
(Do livro “Rapa de
Tacho” Casos Gauchescos, de Aparício Silva Rillo)
Tchê Editora de
Bombacha
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