Uma história de real de paraquedista
Esclarecimento
Se alguém quiser servir na
Brigada de Infantaria Paraquedista, como voluntário, servirá um ano, podendo,
se houver vaga, ficar até 9 anos. Terá que fazer cursos para ser um militar de
carreira.
Num ano, viverá as maiores emoções de
sua vida. Sofrerás castigos cruéis, alegrias imensuráveis, mas isso tudo,
norteará a sua vida para sempre.
Os que ficam apenas um ano, como eu,
para receber o bute marrom, a boina vermelha e o brevê prateado têm, em quatro
semanas, que sofrer os piores castigos físicos, passar por provas que
demonstrem coragem e determinação para um jovem de 18 a 19 anos, antes de entrar
num avião e saltar de paraquedas em situação de combate.
Na Área de Estágios, nos anos 60, o
bicho pegava. Os instrutores não queriam quantidade, eles queriam qualidade.
Qualquer descuido, qualquer vacilo, você era desligado. Ou, então, pela pressão
constante, você pedia para ir embora. Você estava no limite da sua força física
e a pressão psicológica era cruel. “Eles” queriam que você desistisse, mas, na verdade,
não queriam isso. Eles queriam homens de fibra. Homens de uma tropa de elite do
Exército Brasileiro. Eles queriam verdadeiros paraquedistas!
E eu consegui ser um deles...
Agora, leia o texto
abaixo...
Uma palavra pode ser apenas uma palavra,
mas também ela pode ser a
palavra!
Já contei esta história dentro de um
contexto, agora vou contá-la dentro do seu verdadeiro enfoque histórico. Hoje,
entendo por que ela foi dita, qual foi o seu verdadeiro sentido e o que,
verdadeiramente, ela representava dento da atmosfera dramática em que foi dita.
Era apenas uma palavra, mas foi a palavra que, ao seu nome, já tecia o destino
de quem a ouviu e o conceito de valor de quem a pronunciou.
Quando envelhecemos, olhamos para trás
e percebemos quantas coisas boas estiveram no nosso caminho, diante de nossos
olhos, ao alcance de nossas mãos, com sons diante de nossos ouvidos, mas,
muitas vezes, deixamos de contemplar tudo isso que esteve tão perto de nós...
Muitas vezes pensei em tudo que fiz
na Área de Estágio (sempre ela) de certo, de errado, onde quase perdi tudo e
onde ganhei, pois, afinal de contas, consegui. Cada dia, cada ato, era algo
diferente. Você acha que está perto, mas pode estar longe do seu verdadeiro
sonho. Também pode julgar que já conseguiu e, de repente, perder tudo. Suas
ações, emoções, medos e determinação é que farão a verdadeira diferença.
Todos, na Área de Estágio, estão
envolvidos no mesmo processo. Uns julgam, cobram, castigam, punem. Outros
executam, sofrem, balançam e não podem tremer nem vacilar. Há muitas coisas que
você que terá que fazer bem feitas e, numa delas, você poderá errar, seu corpo
poderá desabar e pôr tudo a perder.
Numa sessão de toros em que
participei, por exemplo, juntamente com mais sete instruendos, totalizando
oito, era para ser apenas uma sessão de toros banal como todas as outras. Um
instrutor experiente, com o seu pequeno toro para comandar o exercício, e oito
homens fazendo tudo ao comando dele. No início, tudo certo, tudo coordenado:
homens, força unida em dezesseis braços, fazendo o pedaço redondo de madeira um
palito que sobe e desce na cadência rígida da contagem e ritmo do instrutor.
Suor, cansaço, descompasso e aceleração. A madeira já não sobe com vigor. Os
braços, antes firmes, já se encolhem; não existe mais suavidade ao repô-lo nos
ombros. Agora é uma paulada em cada descida. O tronco flutua como se fosse uma
cobra rastejando pelo chão. A força de todos agora é o limite de alguns.
Ninguém sabe quem ajuda, quem faz o exercício, quem empurra para cima e o
recoloca para baixo. A sessão se torna uma tortura devido a sua descoordenação.
Na Área de Estágio, problemas não
podem entrar, dores não devem existir. Seu corpo tem que estar inteiro.
Doenças? Nem pensar. Mas eu tinha um pequeno problema. Um furúnculo logo abaixo
do ombro esquerdo. Um esparadrapo e tudo estará resolvido, pelo menos eu
pensava assim... Protejo o corpo do tronco com as mãos, não o deixo encostar-se
em mim. Já
fiz muitas vezes esse procedimento e tudo deu certo, dará, com certeza, outra
vez. Mas a duração, o vigor dos exercícios não são mais os mesmos, afinal,
estamos na Área de Estágio...
O furúnculo arrebenta, sangue e areia
se misturam no meu corpo. Dor não há nenhuma, não há cansaço, não há sede, só
há o descompasso. Um instrutor, vendo aquela cena patética, onde homens tentam
dar um mínimo de coordenação onde já não há mais nada para dar. Vendo que pinto
com o sangue rubro meu coturno preto, percebe que, naquele momento, eu já
havido conseguido, mesmo faltando muito a conseguir, dizendo a palavra dentro
do que ele estava vendo, e julgando o esforço de um homem que ultrapassava seus
limites, tentando se tornar glorioso. Então, ele disse a palavra, que ficou
mais eloquente dentro uma pequena frase, que mais que uma simples palavra, era
uma consagração: “Vamos lá, PQD!”.*
Então, eu soube, muitos anos depois,
por que só eu a ouvi. Porque naquele momento e para aquele instrutor eu já
havia conseguido, pelo menos para ele, a minha brevetação como um verdadeiro
paraquedista!
*****
*PQD = paraquedista (só para os já formados). E quem disse
essa frase foi o Sgt Milhomen...
Texto de Nilo da Silva Moraes,
Pqdt 11.779 – 1964/4
A ginástica com toros visa criar no paraquedista o espírito de equipe, muito importante na vida militar.
ResponderExcluirPaulo Fagundes Pqdt 11372 64-02
Busco vídeo da brigada paraquedista de 2003 no 20 blog paraquedista
ResponderExcluirNão sei te informar como conseguir isso. Os textos de: Histórias de Paraquedista (sempre com números romanos) são de um ex-paraquedista, agora apenas um professor civil, que serviu na Brigada de Infantaria Paraquedista, compilou algumas histórias reais e as colocou neste almanaque.
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