Me ensinaram a sentar sempre de
perna fechada:
Etiqueta, selo, lacre.
Vão das pernas que nunca foi meu.
Me ensinaram a abri-las pra um
homem,
Aliança, cartório, meu bem,
Arrendada pra procriação.
Me ensinaram a ficar sempre de
boca fechada:
Falar baixo, com jeito gracioso,
Virgindade nas cordas vocais,
Estupro, abuso, abandono,
Balbucio monólogo aflito,
Grávida de não dizer não!
Kairós! Abro as pernas,
A grande boca de pequenos lábios,
E aborto por decisão.
Reassumo o vão entre as pernas.
Reforma agrária do meu próprio
chão.
Gravidez? Só em estado de graça...
Nunca mais filhos de aflição.
Mais que as pernas...
Quero abrir a minha boca!
Estrear minhas cordas vocais:
Eis o tempo de salvação.
Do
livro: “Amantíssima e Só – Evangelho de Maria e Outras”,
Editora
Olho d´água – SP.
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