Saudade
Olegário Mariano
Saudade!
Dor silenciosa! Trama
Intangível
que o destino tece...
Sombra
de dor nos olhos de quem ama,
Voz
da garganta de quem não esquece.
Saudade!
Mãos em cruz, lábios em prece,
Choro
do extinto amor e extinta flama,
Lua
de baladas que o céu derrama
Luz
que desperta e sonho que adormece.
Cair
lento de pálpebra... Grande ânsia
De
almas unidas pelo mesmo fado.
Oh!
Saudade fiandeira das distâncias!...
Por
ti és todo o bem que extasia,
Quisera
ter das vezes que hei chorando
A
milésima parte em alegria.
Assim seja
Alceu Wamosy
Sonhei
o nosso amor num sonho de criança
Com
o cérebro a escaldar em febre de loucura
Tu
sonhaste-o também na tua alma ingênua e pura
Com
um sonho feliz de paz e de bonança.
Na
rede astral de luz dessa visão futura
Abençoado
porvir, florido de esperança
Ele
dorme, a sorrir, de alma serena e mansa,
Como
dormem de noite os astros pela altura!
Que
nosso santo ideal, o nosso ideal risonho
Seja
a existência inteira em nossos corações,
Leve,
doce, sutil eternamente sonho...
E
que nunca o punhal das realidades frias
Assassine
a menor das nossas ilusões,
E
mate uma sequer das nossas fantasias...
Soneto
Guilherme de Almeida
Ela
veio bater à minha porta
E
falou-me, a sorrir, subindo a escada,
Bom-dia,
árvore velha e desfolhada,
E
eu respondi: - Bom-dia, folha morta.
Entrou.
E nunca mais me disse nada
Até
que um dia (quando não importa),
Houve
canções na ramaria torta
E
houve bando de noivos pela estrada.
Então
me chamou e disse: vou-me embora.
Sou
a felicidade. Vivo agora
Da
lembrança do muito que te fiz.
Foi
assim que em plena primavera
Só
quando ela partiu contou quem era
E
nunca mais eu me senti feliz.
Sonho dourado
Aporelly
Se
eu fosse rico, casaria contigo...
Na
certa, que a proposta aceitarias.
E
te juro que em mim encontrarias
Marido
fiel e dedicado amigo.
Depois,
juntos iríamos viajar
Não
na Europa, porque tu lá não me vias,
Mas podíamos fazer todos os dias
Uma
volta no bonde Circular.
O
mundo todo morreria de inveja
Sozinhos
ficaríamos na vida...
Passeando
sempre de vestidos novos,
Mas
eu sou pobre qual ratão de igreja...
Consola-te
comigo; pois, querida,
O
homem põe, e o diabo come os ovos.
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