(da Revista Língua
Portuguesa n° 7, de 2006)
Sem pressa, com toda a tranqüilidade
de um bom interiorano, Dovílio Rodrigues, de 70 anos, nos conta que é barbeiro
profissional desde os 14 anos Excelente pão e exímio contador de piadas, aos 26
anos, Dovílio atraía uma freguesia tão numerosa que já não tinha tempo nem para
almoçar.
Dovílio credita à pratica dos jogos
de tabuleiro e às palavras cruzadas sua prodigiosa memora e um extenso
vocabulário que lhe permitiram realizar seu prodígio: escrever um livro
composto por palavras iniciadas pela letra P:
Pentapaixão.
Ao todo são 180 páginas com 20.267
palavras seqüenciadas, todas em p;
não há uma sequer iniciada por qualquer outra letra do alfabeto. Não foi um exercício
aleatório de alinhavar termos de maneira forçada. As palavras de seu romance
surgem guiadas por uma coerência lógica, compõem-se u enredo do qual participam
38 personagens.
O livro narra a história do
pedestrianista Plínio Pirilo Perez Proença, que nasceu primogênito, de parto
prematuro pélvico podálico (parto pelos pés),cercado dos cuidados de seus
prestimosos pais, mas que acaba caindo na promiscuidade, levando uma vida
irregular, sem objetivos. Plínio apaixona-se cinco vezes, por mulheres
completamente diferente (daí o nome do título do livro, Pentapaixão) e, ao final, consegue se reerguer graças ao poder da
prece, tornando-se um pastor penitente. Ao descrever a trajetória do personagem
principal. Ao descrever a trajetória do personagem principal – sua decadência
moral e seu posterior reerguimento -, Dovílio praticamente esgota todas as
palavras iniciadas em p em diversas
áreas, como esporte, comércio, medicina, religião.
Uma narrativa em P
No trecho que segue,
a descrição que Dovílio Rodrigues faz, em Pentapaixão, de um
acidente automobilístico sofrido pelo protagonista, Plininho, por seu pai
Paulo Pirilo, e por empregado deles chamado Percy.
* * * * * * * *
Paulo Pirilo pagou pedágio.
Profissional, pilotava primando pela prudência, pela perícia.
Plininho, percebendo pista plana,
pediu pro pai para pilotar. Pai pensou, pensou... “Poucas pessoas pilotando
pela pista...” Pelo primeiro pedido, permitiu.
Plininho pilotava pelos pastos, pelas
planícies. Porém, pouco praticava pilotagem por pistas pavimentadas, própria
para preparar pilotos profissionais. Paulo parou, Plininho pulou, permutaram
posição. Percy Penteado permaneceu pela parte posterior.
Plininho pegou Parati. Percy,
preocupado, pois poderiam passar por perigos, pediu para Plininho pisar pouco.
Porém, principiante para pistas pavimentadas, pé pesado, pouco prudente,
pressionando pedal, pisou profundamente.
Passando por pedriscos perdidos pela
pista (pouca porção), por pisar pesado, patinou perpendicularmente, passou pela
pista para pedestre, perigando precipitar pelo precipício.
Pós passar pela pista para pedestre,
pegou placa publicitária, posta por pontaletes plantados paralelos.
Praticamente perdido, pós piruetar,
pendeu pela pirambeira, parando penso. Por pouco pararia pendurado, prensado
por potente penedo (pesada pedra).
Prejuízos: painel partido, placa
penduradas, pisca-pisca pararam piscação, porta prensada, porta-pneu possuindo
pequenas pregas produzidas pela pancada, platinado perdeu platina, platô perdeu
parafusos principais, pneus partidos, pintura perdida...
Paulo, Plininho, pávidos, pálidos
pelo pavor passado, pularam primeiro! Porém, Percy, protegido pelo porta-pneu,
pôde permanecer preservado.
(Do livro
Pentapaixão, de Dovílio Rodrigues
– Unigraf – editora de Matão – SP)
– Unigraf – editora de Matão – SP)
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