José do Patrocínio Filho, assim como Sylvio Floreal ou Benjamin Constallat são uma dessas figuras difíceis de definir. Autênticos outsiders da literatura. José do Patrocínio Filho (1885-1929) foi jornalista e escritor. Foi dono também dono de personalidade controvertida, foi uma figuraça que de tanto mentir, já não distinguia verdade de mentira. Foi uma dessas personagens que criaram para si um alter ego dos mais surpreendentes, para não se sabe bem por que justificar suas ações mais teratológicas possíveis. Dizem que mentia com a mais absoluta naturalidade, e que envolvido por suas próprias histórias era o primeiro a crer em suas cabotinagens.
José do Patrocínio Filho, “Zeca” para os
íntimos, jornalista e escritor, dono de personalidade controvertida, para dizer
o mínimo, e vida tumultuada, foi uma figuraça. Era O Fabuloso Patrocínio
Filho, para repetir o título da biografia escrita na década de 50 por
Raimundo Magalhães Júnior, e “fabuloso” em dois sentidos: no de pessoa
prodigiosa e no de pessoa que fabula, isto é, inventa, cria ou, se preferir,
mente.
Os últimos momentos...
Na clínica aonde fora levado, dois
dias antes de morrer, fraquíssimo, não suportando outro alimento, o médico
ordenou que lhe dessem leite de peito.
- Virá uma ama com o aparelho próprio para tirar o leite. A
senhora vá servindo às colherinhas.
- Doutor, estou tão nervosa peço-lhe: mande vir a ama e
ensine-me como devo fazer.
Veio a ama.
O médico desnudou-lhe o peito branco, de seios muito bonitos; começa a colocar o aparelho, e Zeca encantado
com derradeira luz nos olhos, e a voz que já era uma sombra de voz, gemeu:
- Doutor...
O médico aproximou-se da cama:
- Meu amigo?
- Não é melhor eu mamar?
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Além do que deixou esquecido na
imprensa do Rio e dos Estados, escreveu: Mundo,
Diabo & Carne, crônicas; A Sinistra Aventura, romance vivido nas
prisões da Inglaterra: O Homem que passa, crônicas; Quarenta anos de má vida do vagabundo José,
romance; O Pó, poema da cocaína; La Pente ,
romance.
A morte
Em 1929, aos 44 anos, Zeca morre de
meningite. Em Paris, como convinha a um bom megalômano. Álvaro Moreyra jura
que, depois de o médico ter receitado leite humano como único alimento possível
para alimentar o moribundo, Zeca não resistiu diante da ama de leite parisiense
de quem iam extrair-lhe o alimento e perguntou: “Não é melhor eu mamar?” Pouco
mais de um mês depois, o corpo embalsamado de Zeca chega ao Rio e, na Igreja de
Nossa Senhora do Rosário, acontece um velório impagável, com Sinhô batucando um
samba no caixão e suspeitas de que o morto havia se mexido, tudo registrado por
Manuel Bandeira numa das “Crônicas da Província do Brasil”.
No enterro de Zeca,
Manuel Bandeira conhece Sinhô
O poeta e o sambista Sinhô se
conheceram no velório do escritor e jornalista boêmio Zeca Patrocínio – filho
do “Tigre da Abolição”, José do Patrocínio (1853-1905). Foi imediata a
identificação poética de Bandeira com o músico popular. Sua crônica revela um
encantamento tipicamente modernista: a descoberta de um representante genuíno
do povo brasileiro, cuja linguagem era tão prezada por Manuel Bandeira, que num
de seus poemas ele faz a apologia da “língua errada do povo, da língua certa do
povo, porque ele é que fala gostoso o português do Brasil”.
José Carlos do Patrocínio Filho,
jornalista e escritor brasileiro (Rio de Janeiro, RJ, 1885 - Paris, 1929). De
obra fragmentária, o filho de José do Patrocínio foi um dos primeiros
escritores brasileiros a colaborar diretamente com o cinema então nascente,
quando escreveu, em 1910, dois filmes musicais, Paz e Amor e Logo Cedo.
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