Necessidades sexuais
Luis Fernando
Veríssimo
Eu nunca havia entendido por que as
necessidades sexuais dos homens e das mulheres são tão diferentes. Nunca tinha
entendido isso de 'Marte e Vênus'. E
nunca tinha entendido por que os homens pensam com a cabeça e as mulheres com o
coração.
Uma noite, na semana passada, minha
mulher e eu estávamos indo para a cama. Bem, começamos a ficar a vontade, fazer
carinhos, provocações, o maior tesão e, nesse momento, ela parou e me disse:
- Acho
que agora não quero, só quero que você me abrace...
Eu falei:
- O
quêêê?
Ela falou:
- Você
não sabe se conectar com as minhas necessidades emocionais como mulher.
Comecei a pensar no que podia ter
falhado. No final, assumi que aquela noite não ia rolar nada, virei e dormi. No
dia seguinte, fomos ao shopping.
Entramos em uma grande loja de
departamentos. Fui dar uma volta enquanto ela experimentava três modelitos
caríssimos. Como estava difícil escolher entre um ou outro, falei para comprar
os três. Então, ela me falou que precisava de uns sapatos que combinassem a R$
200,00 cada par. Respondi que tudo bem.
Depois fomos à seção de joalheria,
onde gostou de uns brincos de diamantes e eu concordei que comprasse. Estava
tão emocionada! Deveria estar pensando que fiquei louco. Acho até que estava me
testando quando pediu uma raquete de tênis, porque nem tênis ela joga. Acredito
que acabei com seus esquemas e paradigmas quando falei que sim. Ela estava
quase excitada sexualmente depois de tudo isso. Vocês tinham que ver a carinha
dela, toda feliz!
Quando ela
falou:
-
Vamos passar no caixa para pagar, amor?
Daí eu
disse:
- Acho que agora não quero
mais comprar tudo isso, meu bem... Só quero que você me abrace.
Ela ficou
pálida. No momento em que começou a ficar com cara de querer me matar, falei:
- Você
não sabe se conectar com as minhas necessidades financeiras de homem...
Vinguei-me!
Mas acredito que o sexo acabou pra mim até o Natal de 2015.
O humor do poeta Mário Quintana
Uma das facetas pouco públicas de
Quintana era a de emérito galanteador. Fazia respeitosos galanteios a mulheres
de amigos, com especial predileção, nesses casos, pelo trocadilho. A jornalista
Alba Faedrich (aquela a quem costumava chamar de Albaurora), colega de redação,
certa vez pediu-lhe que traduzisse alguns versos em francês e antecipou o
agradecimento pela ajuda deixando um cravo vermelho sobre o teclado da máquina
de escrever de Quintana.
Cheio de culpa por não ter feito a
tradução, no dia seguinte ele deixou um bilhete sobre a máquina dela, em
versos:
O cravo que tu me deste
Num momento de loucura
É para usar na lapela
Ou usar na ferradura?
Domingo, 20 de julho de 1969. Como
todos os lugares do mundo em que existia um aparelho de televisão, a redação do
Correio do Povo está parada, assistindo à chegada do homem na Lua. Enquanto
Neil Armstrong saltita, deixando marcas na superfície lunar e cravando lá a
bandeira norte-americana, Mário Quintana rabisca a sua marca para a data,
antecipando outros futuros. Escreve e mostra, para delícia do pessoal:
Todo astronauta que se preze
Há de trazer pelo menos
Um dos anéis de Saturno
E uma camisa de Vênus.
Outra vez,
um colega de trabalho fez um infeliz elogio:
- Mário,
gostei muito daquele teu poeminha.
O poeta não
perdeu o senso de humor e brincou:
-
Obrigado pela tua opiniãozinha.
O gaúcho de Alegrete, em suas
entrevistas, alternava momentos de humor, ternura e melancolia. Frases
comoventes também se tornaram famosas, como, por exemplo, o motivo de não
gostar de recordações. “Não gosto de
recordar porque dá saudade de mim mesmo”.
Alegrete, 30 de julho de
1906 -
Porto Alegre, 5 de maio de 1994) foi um poeta,
tradutor e jornalista brasileiro.
Frases de humor do poeta
“O fantasma é um exibicionista póstumo.”
“Pertencer a uma escola poética é o mesmo que ser condenado à prisão perpétua.”
“Os verdadeiros crimes passionais são os sonetos de amor.”
“A coisa mais solitária que existe é um solo de flauta.”
“A verdadeira couve-flor é a hortênsia.”
“A modéstia é a vaidade escondida atrás da porta.”
“A vista de um veleiro em alto-mar remoça a gente no mínimo uns cento e
cinquenta anos.”
“Atenção! O luar está filmando.”
“A alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe.”
“Os clássicos escreviam tão bem porque não tinham os clássicos para atrapalhar.”
“Le penseur’ do Rodin... Coitado. Nunca se viu ninguém fazendo tanta força
para pensar.”
“A natureza é barroca, o sonho é
barroco... O que teriam vindo fazer neste mundo as colunas gregas?”
“O mais triste da arquitetura moderna é a resistência dos
seus materiais.”
“O crítico é um camarada que contorna uma tapeçaria e vai olhá-la pelo lado
avesso.”
“Não sou mais que um poeta
lírico,/Nada sei do vasto mundo.../Viva o amor que eu te dedico, /Viva Dom
Pedro Segundo!”
As frases e os pensamentos acima não
são nem do Millôr Fernandes nem do Ivan Lessa, são de outro humorista
brasileiro que também já morreu: Mario Quintana.
Quem já gostava do Quintana poeta vai
gostar de descobrir que ele era um dos melhores humoristas do seu tempo.
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