O “impossível” aconteceu
Sgt Vivecanando e Sgt Veras
O fato que vamos narrar aconteceu
em fevereiro de 1964, na Zona de Lançamento de Gericinó, Rio de Janeiro. Os
protagonistas: 3ºs. sargentos José Newton Véras, Pqdt 4506, do 1958/2, MS* 1300
e Vivecanando de Araújo, Pqdt 4530, do 1958/2, MS 1226, ambos do Regimento
Santos Dumont de Infantaria Paraquedista, narram, à sua maneira, como viram o
desenrolar dos acontecimentos. Deixemos que eles mesmos apresentem as suas
respectivas versões.
Sargento Véras:
“Foi mais ou menos assim:
Saí do avião C-119 pela porta da esquerda, ao mesmo tempo em que o Sargento
Vivecanando saía pela porta da direita. Mal senti o choque de abertura, um
paraquedista caiu sobre o meu paraquedas e resvalando nele, embarafustou-se
pelas linhas de tal modo que me cobriu totalmente o rosto e a frente do corpo,
com o nylon do seu paraquedas. Ele passou por mim gritando qualquer coisa que
não entendi. Aquele velame todo na minha frente, me tirando a visão, cobrindo-me
todo, machucando-me até, deu-me raiva e medo e tentei desvencilhar-me de
qualquer maneira. Nisso senti um puxão violento e o atrito do nylon chegou a
esquentar minhas mãos deixando-as em fogo.
O paraquedista gritou –
segura que eu vou abrir o reserva (até aquele momento eu não sabia que era o
Sargento Vivecanando, tal o amontoado de nylon e linhas na minha frente.) –
segurei-o com “unhas e dentes”, apesar das dores que sentia nas mãos e agora
também nas pernas – o nylon, atritando, chegava-me quase a queimar.
Nessa situação aterrei
violentamente, pois não vi o solo chegar – senti fortes dores nas pernas, mas
logo percebi que estava inteiro. Só então é que vi o Sargento Vivecanando.”
Sargento Vivecanando:
“Saltei e o meu paraquedas deu
“charuto” (o paraquedas não abre). Acionei o punho do paraquedas reserva que
não cedeu de pronto. Enquanto eu “brigava” com o punho do reserva, bati num
paraquedas já aberto, resvalando nele e passando por entre suas linhas. Gritei
para o paraquedista: segura! – o que realmente aconteceu. Ao sentir-me seguro,
tratei de abrir o reserva. Ao mesmo tempo em que este se abriu, eu aterrava são
e salvo.
Só então é que vi o
Sargento Véras com quem tinha vivido, sem saber quem era, instantes mais
dramáticos da minha vida!”
(Revista do Regimento
Santos Dumont, de 1964)
*MS = Mestre de Salto, é o que identifica a vertical do ponto para o lançamento de paraquedistas numa Zona de Lançamento.(ZL)
(Desenho do que poderia ter acontecido...)
Charuto*
*acidente em que o paraquedas não abre.
Outro trágico acidente
Em 10 de outubro de 1950,
salto de demonstração em Gramacho, Rio de Janeiro, o paraquedas do sargento
João Alves Diniz, pqdt 234, deu um “charuto” (não abriu), e ele caiu em cima do
paraquedas do Cabo Paulo Wilhelm Neto, pqdt 302, já aberto, enrolando-se os
dois no paraquedas do Cabo Paulo, morrendo ambos na queda.
Abaixo, lançamento na ZL de Gramacho
Acima, os aviões eram os
antigos bimotores C-47;
ZL = Zona de Lançamento;
Gramacho =
Localidade que fica na estrada que vai do Rio de Janeiro para Petrópolis.
A foto abaixo foi-me cedida pelo Cap. Pqdt Casemiro Scepaniuk,
Mestre de Salto nesse lançamento.
Mestre de Salto nesse lançamento.
A foto do acidente:
À esquerda da foto, assinalados, o paraquedas do
sargento Diniz, encharutado, caindo em cima do
paraquedas do cabo Wilhelm, morrendo ambos na
queda. Esse foi o primeiro acidente de paraquedistas saltando que aconteceu no Brasil;
P.S. As anotações sobre a foto foram feitas pelo Cap Casemiro Scepaniuk, pioneiro 44.
No meio desta montagem
fotográfica, abaixo do escudo PQD, as fotografias dos três primeiros
paraquedistas mortos em acidentes na Escola de Paraquedista do Exército, até
1950.
Os mortos da foto:
3° Sgt João Alves
Diniz, Pqdt 234 do 1950/3 (morto em 10 de outubro de 1950)**
Cb Paulo Wilhelm Neto, Pqdt 302 do 1950/6 (morto em 10 de outubro de 1950)**
*A história desse acidente está contada detalhadamente no Histórias de Paraquedistas I
*A história desse acidente está contada detalhadamente no Histórias de Paraquedistas I
**Acidente durante salto de demonstração realizado na ZL de Gramacho-RJ, em formatura de aeronaves do tipo C-47.
“Você pode ficar apenas um ano dentro da
Brigada de Infantaria Paraquedista,
mas a Brigada ficará por toda a vida
dentro de você.”
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