sábado, 30 de agosto de 2014

Carta de Bento Gonçalves



Carta de Bento Gonçalves ao Regente padre Diogo Antônio Feijó

(Responsável pela administração do Brasil 
na menoridade de D. Pedro II)

(Bento Gonçalves da Silva: 1788 – 1849)

Porto Alegre, 20 de setembro de 1835.

Senhor: em nome do povo da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, depus o Presidente Braga e entreguei o governo ao substituto legal doutor Marciano Ribeiro. E em nome do Rio Grande eu lhe digo que, nesta Província extrema, afastada dos corrilhos e conveniências da Corte, dos rodapés e salamaleques, não toleramos imposições humilhantes nem insultos de qualquer espécie. O pampeiro destas paragens tempera o sangue rio-grandense de modo diferente de certa gente que por aí há.

Nós, rio-grandenses, preferimos a morte no campo áspero da batalha às humilhações nas salas blandiciosas do Paço do Rio de Janeiro. O Rio Grande é a sentinela do Brasil que olha vigilante para o Rio da Prata.  Merece, pois, mais consideração e respeito. Não pode nem deve ser oprimido por déspotas de fancaria. Exigimos que o governo imperial nos dê um presidente de nossa confiança, que olhe pelos nossos interesses, pelo nosso progresso, pela nossa dignidade, ou nos separaremos do centro e, com espada na mão, saberemos morrer com honra ou viver em liberdade.

É preciso que V. Excia. saiba, Senhor Regente, que é obra difícil, senão impossível, escravizar o Rio Grande, impondo-lhe governadores despóticos e tirânicos. Em nome do Rio Grande, como brasileiro, eu lhe digo, Senhor Regente, reflita bem antes de responder, porque de sua resposta depende talvez o sossego do Brasil. Dela resultará a satisfação dos justos desejos de um punhado de brasileiro que defendeu contra a voracidade espanhola uma nesga fecunda de Pátria; e dela também poderá resultar uma luta sangrenta, a ruína da Província, ou formação de um novo estado dentro do Brasil.

Carta extraída do livro “Os Varões Assinalados”,
de Tabajara Ruas. Editora L&PM



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