Carta de Bento Gonçalves ao Regente padre Diogo
Antônio Feijó
(Responsável pela administração do Brasil
na menoridade de D. Pedro II)
na menoridade de D. Pedro II)
(Bento Gonçalves da Silva: 1788 – 1849)
Porto Alegre, 20 de setembro de 1835.
Senhor: em nome do povo da Província de
São Pedro do Rio Grande do Sul, depus o Presidente Braga e entreguei o governo
ao substituto legal doutor Marciano Ribeiro. E em nome do Rio Grande eu lhe
digo que, nesta Província extrema, afastada dos corrilhos e conveniências da
Corte, dos rodapés e salamaleques, não toleramos imposições humilhantes nem
insultos de qualquer espécie. O pampeiro destas paragens tempera o sangue
rio-grandense de modo diferente de certa gente que por aí há.
Nós, rio-grandenses, preferimos a morte
no campo áspero da batalha às humilhações nas salas blandiciosas do Paço do Rio
de Janeiro. O Rio Grande é a sentinela do Brasil que olha vigilante para o Rio
da Prata. Merece, pois, mais consideração e respeito. Não pode nem deve
ser oprimido por déspotas de fancaria. Exigimos que o governo imperial nos dê
um presidente de nossa confiança, que olhe pelos nossos interesses, pelo nosso
progresso, pela nossa dignidade, ou nos separaremos do centro e, com espada na
mão, saberemos morrer com honra ou viver em liberdade.
É preciso que V. Excia. saiba, Senhor
Regente, que é obra difícil, senão impossível, escravizar o Rio Grande,
impondo-lhe governadores despóticos e tirânicos. Em nome do Rio Grande, como
brasileiro, eu lhe digo, Senhor Regente, reflita bem antes de responder, porque
de sua resposta depende talvez o sossego do Brasil. Dela resultará a satisfação
dos justos desejos de um punhado de brasileiro que defendeu contra a voracidade
espanhola uma nesga fecunda de Pátria; e dela também poderá resultar uma luta
sangrenta, a ruína da Província, ou formação de um novo estado dentro do Brasil.
Carta extraída do livro “Os Varões Assinalados”,
de Tabajara Ruas. Editora L&PM
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