Se você recusou sua rotina, deixou de
fazer aquilo que mais gostava em nome de alguém, torrou seus bens, abandonou os
amigos e os prazeres mais fundamentais, isso não é amor, é paixão.
A paixão é
uma fatalidade, o amor é uma escolha.
A paixão é
egoísta, o amor é generoso.
A paixão é
renúncia, o amor é recomeço.
A paixão
arrebenta, o amor adapta.
A paixão é
confinamento, o amor é abrigo.
Não há paixão pequena, paixão
simbólica, paixão discreta: é grandiosa no início e escandalosa no final.
Não
recomendo, muito menos desaconselho: é experiência para os fortes.
Nada do que viveu antes terá sentido,
nada do que possa viver depois terá sentido. Conjugará interminavelmente o
presente do indicativo.
Atingirá um extremo emocional
perigoso: você passa a ser do outro em tempo integral. Conhecerá sua pior crise
de nervos, seu mais fundo estresse emocional, seu mais absurdo esgotamento da
memória, sua mais humilhante falência financeira.
Uma vez apaixonado, você rejuvenesce
10 anos em 10 horas. Mas, uma vez desapaixonado, você envelhece 10 anos em 10
horas.
A paixão ou é imensa, ou não é. Ela
não pede desculpa, não negocia: equivale a uma dependência química em seu
estado mais selvagem.
É o equivalente ao sequestro de uma
vida. A própria vida. Você é o sequestrador e o refém ao mesmo tempo.
Não há desconto, adiamentos,
pechincha. A paixão exige pagamento à vista, execução sumária.
Nunca vi nenhum apaixonado transferir
compromisso para o dia seguinte, ele somente antecipa.
Não é que a
paixão seja rápida, é devastadora, não sobra coisa alguma para continuar.
O apaixonado não abre negócios, mas
fecha portas. Não areja a cabeça, não tem grandes ideias, não combate
preconceitos, emburrece progressivamente, a ponto de só ter um número para
ligar e um lugar para ir.
Ele não tem
sangue-frio, não raciocina, não elabora planos, não arruma álibis.
A paixão é um crime malfeito,
facilmente descoberto.
Os envolvidos desprezam o mundo, não
se importam se estão sendo vistos, se beijam em público, se são casados, noivos
ou recém-viúvos, se serão criticados pelos vizinhos e familiares.
O apaixonado
joga tudo para o alto e não fica para segurar nada.
Ele não tem discernimento, não lê
jornal, perde sua capacidade de decidir sobre a trajetória. Apresenta a
superstição de um velho, a intuição de uma criança.
É um idiota sábio. Idiota porque não
se defende da tristeza, sábio porque não se protege da alegria.
Não existe mais bom e ruim, certo e
errado, esquerda e direita. Não tem sentido julgar. Não tem como se orgulhar do
que foi realizado, muito menos se arrepender.
Você muda de personalidade, larga
trabalho, descuida da família para se dedicar inteiramente a não pensar e
somente sentir.
Não podemos
nem dizer se a paixão ajuda ou atrapalha, ela acontece.
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