Olavo Bilac
I
Noite ainda, quando ela me pedia
Entre dois beijos que me fosse
embora,
Eu, com os olhos em lágrimas,
dizia:
“Espera ao menos que desponte a
aurora!
Tua alcova é cheirosa como um
ninho.
E olha que escuridão há lá por
fora!
Como queres que eu vá, triste e
sozinho,
Casando a treva e o frio de meu
peito
Ao frio e à treva que há pelo
caminho?!
Ouves? é o vento! é um temporal
desfeito!
Não me arrojes à chuva e à
tempestade!
Não me exiles do vale do teu
leito!
Morrerei de aflição e de
saudade...
Espera! até que o dia
resplandeça,
Aquece-me com a tua mocidade!
Sobre o teu colo deixa-me a
cabeça
Repousar, como há pouco
repousava...
Espera um pouco! deixa que
amanheça!”
– E ela abria-me os braços. E eu
ficava.
E, já manhã, quando ela me pedia
Que de seu claro corpo me
afastasse,
Eu, com os olhos em lágrimas,
dizia:
“Não pode ser! não vês que o dia
nasce?
A aurora, em fogo e sangue, as
nuvens corta...
Que diria de ti quem me
encontrasse?
Ah! nem me digas que isso pouco
importa!...
Que pensariam, vendo-me,
apressado,
Tão cedo assim, saindo a tua
porta,
Vendo-me exausto, pálido,
cansado,
E todo pelo aroma de teu beijo
Escandalosamente perfumado?
O amor, querida, não exclui o
pejo.
Espera! até que o sol desapareça,
Beija-me a boca! mata-me o
desejo!
Sobre o teu colo deixa-me a
cabeça
Repousar, como há pouco
repousava!
Espera um pouco! deixa que
anoiteça!”
– E ela abria-me os braços. E eu
ficava.
II
E, já manhã, quando ela me pedia
Que de seu claro corpo me
afastasse,
Eu, com os olhos em lágrimas,
dizia:
“Não pode ser! não vês que o dia
nasce?
A aurora, em fogo e sangue, as
nuvens corta...
Que diria de ti quem me
encontrasse?
Ah! nem me digas que isso pouco
importa!...
Que pensariam, vendo-me,
apressado,
Tão cedo assim, saindo a tua
porta,
Vendo-me exausto, pálido,
cansado,
E todo pelo aroma de teu beijo
Escandalosamente perfumado?
O amor, querida, não exclui o
pejo.
Espera! até que o sol desapareça,
Beija-me a boca! mata-me o
desejo!
Sobre o teu colo deixa-me a
cabeça
Repousar, como há pouco
repousava!
Espera um pouco! deixa que
anoiteça!”
– E ela abria-me os braços. E eu
ficava.
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