domingo, 22 de junho de 2014

Poemas sobre a preferência nacional



A bunda

Por onde ela passa todo mundo espia,
Não para a cara, que não é formosa,
Mas para a bunda, que é maravilhosa,
Em bunda, nunca vi tanta magia.

Requebra, sobe, treme e rodopia
Dentro de uma expressão maravilhosa.
Deve ser uma bunda cor-de-rosa,
Da cor do céu quando desponta o dia.

E ela sabe que sua bunda é boa.
Vai pela rua rebolando à toa,
Deixando a multidão maravilhada.

Eu a contemplo, num silêncio mudo,
Embora a cara não valesse nada,
Só aquela bunda me valia tudo!

(Belmiro Braga)



No Corpo Feminino, esse retiro

No corpo feminino, esse retiro
– a doce bunda – é ainda o que prefiro.
A ela, meu mais íntimo suspiro,
pois tanto mais a apalpo quanto a miro

Que tanto mais a quero, se me firo
em unhas protestantes, e respiro
a brisa dos planetas, no seu giro
lento, violento... Então, se ponho e tiro

a mão em concha – a mão, sábio papiro
iluminando o gozo, qual lampiro,
ou se dessedentado, já me estiro,

me penso, me restauro, me confiro,
o sentimento da morte eis que adquiro:
de rola, a bunda tona-se vampiro.

(Carlos Drummond Andrade)



Poema à mulher da bunda grande

quando não és
enches a rua de incertezas
e nem meu peito acha
de te perder na consciência

és uma crise
alheia a vãos desejos
e a exata incompreensão
do que eu nem vejo

porque a lúdica simetria
de tua glútea paisagem
enseja a exata proporção
de todas as miragens

e nesse escândalo de carnes
que transitas na avenida
nada do que é intransitivo
cabe em tal medida

e o ritmo em que incendeias
todas as vias e todas as veias
constrange a compreensão
de que nem és sereia

(Aurélio Aquino)


Poema pedagógico

Bunda começa bom B.
B é bunda desenhada.
Nenhuma parte do corpo
será assim tão letrada.

ABC da tua bunda
gostaria de escrever.
Nela sou analfabeto,
mas com vontade de ler.

B é bunda desenhada.
Bunda começa com B.
Eu tenho pincel e lápis.
Vamos pintar e escrever?

(Marcelo Mário de Melo)



(Desenhos de Paolo Serpieri)



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