Sobre um playboy da
época, versejou o romancista Aluísio Azevedo:
LEÃO PACHOLA
Hipérbole fatal de nossos dias,
Arremedo de um "quê",
que não é nada,
Bagatela do tom, moço pomada,
Eterno prosa das confeitarias;
Ceando na Ravot comidas frias;
Vestindo ao Raunier roupa
fiada;
"Pince-nez" de uma
cor sempre azulada;
Entre os dentes charutos -
"Regalias";
Francês notado em trato e
pedantismo,
E secas em francês sempre que
amola;
Não é homem, não, é galicismo.
Eis o tipo fiel d'alta bitola!
Que se sustenta co'o maior
cinismo
Da rua do Ouvidor - leão
pachola.
Sobre outro playboy,
versejou o comediógrafo Artur Azevedo:
TERTULIANO, O
PASPALHÃO
Tertuliano, frívolo peralta,
Que foi um paspalhão desde
fedelho,
Tipo incapaz de ouvir um bom
conselho,
Tipo que, morto, não faria
falta;
Lá um dia deixou de andar à
malta
E, indo à casa do pai, honrado
velho,
A sós na sala, diante de um
espelho,
À própria imagem disse em voz
bem alta:
- Tertuliano, és um rapaz
formoso!
És simpático, és rico, és
talentoso!
Que mais no mundo se te faz
preciso?
Penetrando na sala, o pai
sisudo,
Que por trás da cortina ouvira
tudo,
Severamente respondeu: -
Juízo!
Sobre um colega
playboy na faculdade,
versejou o advogado
gaúcho Joinvile Barcelos:
BENEDITO SALGADO
Vai às aulas e às feiras, lê,
patina,
Namora, odeia os militares.
Tersos
Os seus sonetos, nos jornais
dispersos,
João dos Anzóis
"pomposamente" assina.
Ama o truco, o bilhar, jogos
diversos.
Ah! Viver no "xadrez"
(que bela sina!),
Tendo ao lado uma cândida
menina,
Bons patins, bons autores e bons
versos.
Vive alheio aos jurídicos
assuntos.
Provas de exame nós
"colamos" juntos,
Eis por que ainda não levamos
pau.
Prega aos caloiros tímidos na
Escola:
"Não tenham medo, aqui tudo
se 'cola',
'Cola-se' até solenemente - o
grau!"
Sobre um colega de
alta estatura na faculdade de direito de São Paulo,
versejou o paraense
Tapajós Gomes:
AMADOR COBRA
Este "enorme colega"
(assim define-o
Outro colega,
espirituosamente),
Não garanto, mas deve ser
parente
Dalgum poste da Light,
consanguíneo.
É professor e aluno juntamente,
Tem prática, traquejo,
raciocínio,
E onde quer que ele esteja tem
domínio
Só pela altura... que faz medo
à gente.
É muito alto, demais, o nosso
Cobra
E embora assim comprido, ele
não dobra
Apesar, meus leitores, dos
pesares...
Isto de altura é coisa que
acontece,
Mas o Cobra, palavra que parece
Um sobrado de três ou quatro
andares!
Sobre um jornalista
influente, versejou a poetisa carioca que se assinava Álvaro Armando:
HERBERT MOSES
Pequenino. Apelidam-no
"mosquito".
Não perde coquetel ou festa de
arte.
Anda aos pulinhos, como
periquito,
E pula, ao mesmo tempo, em toda
parte!
Não há banquete em que, com
qualquer fito
Ou sem nenhum, não diga o seu
aparte.
E discursos faria, ao infinito,
Se um turista chegasse, lá de
Marte!
Aos jornalistas tudo acerta,
ajeita.
Se da ABI na doce presidência
Hábil e sutilmente se grudou,
A própria oposição bem o
respeita,
Pois tem que se curvar ante a
evidência:
Até o Getúlio foi e... ele
ficou.
Sobre um jornalista
venal, versejou o bruxo gaúcho Múcio Teixeira:
O GIRAFA
Borrar papel, Girafa!, é teu
fadário,
Contra a honra de toda a gente
séria;
Oh! alma pustulenta e
deletéria...
Oh! ente nauseabundo e
salafrário!
Ontem... entre os rebeldes,
mercenário,
Hoje... parece mesmo uma
pilhéria!
Qual vende o leito crapulosa
Impéria,
A pena alugas por qualquer
salário.
Jornaleiro metido a jornalista,
Dos vícios teus a criminosa
lista
Verás aqui... e para além te
empurro!
Por andares na berra, estás na
barra;
Pois hoje a Musa em teu focinho
escarra,
"Doutor na asneira, na
ciência burro!"
Sobre um gordo
pedante, versejou o jornalista paulista Moacir Piza:
O CARTOLA (a Cardoso
de Almeida)
Pança, asneira, bazófia,
parolice;
Parolice, bazófia, asneira,
pança:
- Eis o que revelou desde
criança,
E o que há de revelar até a
velhice.
É um realejo, que jamais
descansa,
A remoer sempre o que Leroy já
disse.
Ninguém, a um tempo, faz tanta
tolice;
Ninguém tanta tolice a um tempo
avança!
Pingue de enxúndias mas de miolos
pecos,
Lembra, na linha, o Conselheiro
Acácio,
Superando, em ideias, cem
Pachecos!
Nunca um raio de luz lhe entrou
na bola.
Pensa o leitor que pinto algum
pascácio?
- Engana-se, leitor, pinto
o Cartola.
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