domingo, 1 de junho de 2014

Grampo


Carlos Heitor Cony

– Alô! Você está aí?
– Evidente que estou. Se não estivesse, não estaria...
– Não esquenta. Estou aqui pra quebrar o galho...
– Que galho?
– Aquele! A coisa está indo.
– Que coisa está indo?
– Aquela... já falei com o cara...
– Ele topou?
– Apenas um problema. Ele quer mais.
– É preciso cuidado. Ele pode dar o fora.
– Não, está muito amarrado. Eu tenho provas...
– Você ficou com as fitas?
– É lógico. Não se pode confiar em ninguém. A coisa está braba... a Polícia Federal já descobriu o pacote...
– Que pacote?
– Aquele que você me entregou...
– P... que pariu! Vou procurar meu passaporte...
– Ainda não precisa. Temos uma alternativa...
– Que alternativa?
– Dar mais... inclusive para aquele cara...
– O Pimentel? Ele topa?
– Todo mundo topa. O problema é saber quanto...
– Pô! A coisa está saindo muito cara... você acha que vai dar certo?
– Certíssimo. Está tudo pronto, só falta o biscoito...
– Que biscoito?
– Aquele verdinho, com a cara do Washington...
– Com a cara do Lincoln não serve?
– Serve. Só não serve a do Bush que ainda não existe...
– Tá bem, amigão. Vou tomar providências. Amanhã a gente se fala...
– Falar não adianta. O cara tem pressa.
– Entendido. Farei o que puder. Confia em mim.
– Confio desconfiando. Nunca se sabe...

Cony, você nunca me enganou!



Um dia, num restaurante do Rio, encontram-se o cronista Antônio Maria com o escritor Carlos Heitor Cony. Maria diz a Cony:

- Cony, você nunca me enganou!

E o cronista conta a ele a seguinte história:

“Eu estava num voo da ponte aérea Rio-São Paulo, quando uma mulher, sentada a meu lado e vendo que eu estava lendo alguns livros, perguntou se eu era escritor, respondi que sim. Ela quis saber o meu nome e eu disse: Carlos Heitor Cony. Ela, então, disse que gostava muito dos meu livros e até já havia lido alguns. Conclusão, chegando a São Paulo, convidou-me para ir ao seu apartamento e acabamos na cama. E sabe o que aconteceu, Cony, você broxou, Cony!”.


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