quarta-feira, 21 de maio de 2014

Um poema de Maria Teresa Horta



Post Scriptum

Afasto de ti com
raiva surda
O corpo
as mão
o pensamento
e apago secreta
uma a uma
as velas acesas do teu vento
liberta ponho o corpo
em seu lugar
visto a cidade
penteio um rio sedento
penso que ganho
e fujo
e não entendo
penso que durmo
mas não consigo
o tempo
E cede-se o vazio
sobre o meu ventre
e segue-se a saudade
em seu sustento
E digo este meu vício
dos teus olhos
de um verde tão lento
muito lento

Se penso que te deixo
já te quero

Se penso que recuso
já te anseio

Se penso que te odeio
já te espero

e torno a oferecer-te
o que receio

Se penso que me calo
já te grito

Se penso que me escondo
já me ofereço

Se penso que não sinto
é porque minto

Se penso que me olhas
já estremeço

Maria Teresa Horta* (1937)

* Uma das Três Marias, feministas portuguesas.
Do livro Minha Senhora de Mim

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