(parte de uma crônica de Graciliano
Ramos
“Deve-se escrever da mesma
maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma
primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o
pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem
uma, duas vezes
Depois enxáguam, dão mais uma
molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra
limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma
só gota.
Somente depois de feito tudo isso
é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois
quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para
enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.”
Os relatórios do Prefeito Graciliano Ramos
Graciliano Ramos revelou-se como
escritor ao dirigir a cidade de Palmeira dos Índios, da qual foi prefeito de 7
de janeiro de 1928 a
10 de abril de 1930. No exercício do cargo, redigiu dois relatórios (prestação
de contas) da Prefeitura Municipal ao governador de Alagoas, Álvaro Paes.
Publicados no Diário Oficial, os textos foram lidos pelo poeta e editor Augusto Frederico Schmidt, dono da Editora Schmidt, no Rio. O editor calculou que aquele prefeito deveria ter um livro engavetado. Se tivesse, iria publicá-lo. E tinha mesmo, Caetés. A supervisão da publicação, em 1933, ficou a cargo de Jorge Amado.
Os relatórios: “Houve lamúrias e reclamações por se haver mexido no cisco preciosamente guardado no fundo dos quintais; lamúrias, reclamações e ameaças porque mandei matar algumas centenas de cães vagabundos; lamúrias, reclamações, ameaças, guinchos, berros e coices de fazendeiros que criavam bichos nas praças. E, no ano seguinte: cães, porcos e outros bichos incômodos não tornaram a aparecer nas ruas. A cidade está limpa.”
Publicados no Diário Oficial, os textos foram lidos pelo poeta e editor Augusto Frederico Schmidt, dono da Editora Schmidt, no Rio. O editor calculou que aquele prefeito deveria ter um livro engavetado. Se tivesse, iria publicá-lo. E tinha mesmo, Caetés. A supervisão da publicação, em 1933, ficou a cargo de Jorge Amado.
Os relatórios: “Houve lamúrias e reclamações por se haver mexido no cisco preciosamente guardado no fundo dos quintais; lamúrias, reclamações e ameaças porque mandei matar algumas centenas de cães vagabundos; lamúrias, reclamações, ameaças, guinchos, berros e coices de fazendeiros que criavam bichos nas praças. E, no ano seguinte: cães, porcos e outros bichos incômodos não tornaram a aparecer nas ruas. A cidade está limpa.”
Dos funcionários que encontrou na
Prefeitura, Graciliano conservou poucos: “Saíram os que faziam política e os
que não faziam coisa nenhuma.”
Aplicação de recursos e prestação
de contas: “Convenho em que o dinheiro do povo poderia ser mais útil se
estivesse nas mãos, ou nos bolsos, de outros menos incompetentes do que eu; em
todo caso, transformando-o em pedra, cal, cimento, etc. sempre procedo melhor
que se distribuísse com os meus parentes, que necessitam, coitados.”
Receita e Despesa: “A receita,
orçada em 50:000$000, subiu, apesar de o ano ter sido péssimo, a 71:649$290,
que não foram sempre bem aplicados por dois motivos: porque não me gabo de
empregar dinheiro com inteligência e porque fiz despesas que não faria se elas
não estivessem no orçamento.”
As estradas: “Procurei sempre os
caminhos mais curtos. Nas estradas que se abriram só há curvas onde as retas
foram inteiramente impossíveis.
Evitei emaranhar-me em teias de aranha.
Certos indivíduos, não sei por quê, imaginam que devem ser consultados; outros se julgam autoridade bastante para dizer aos contribuintes que não paguem impostos.
Não me entendi com esses.”
O cemitério: “Pensei em construir
um novo cemitério, pois o que temos dentro em pouco será insuficiente, mas os
trabalhos a que me aventurei, necessários aos vivos, não me permitiram a
execução de uma obra, embora útil, prorrogável. Os mortos esperarão mais algum
tempo. São os munícipes que não reclamam.”
As obras: Quando iniciei a
rodovia de SantAna, a opinião de alguns munícipes era de que ela não prestava
porque estava boa demais. Como se eles não a merecessem. E argumentavam. Se
aquilo não era péssimo, com certeza sairia caro, não poderia ser executado pelo
município. (...)”
Graciliano deixou a Prefeitura
certo de que não seria reeleito, porque fez corretamente o que tinha que ser
feito: “Não favoreci ninguém. Devo ter cometido numerosos disparates. Todos os
meus erros, porém, foram da inteligência, que é fraca. Perdi vários amigos, ou
indivíduos que possam ter semelhante nome. Não me fizeram falta. Há
descontentamento. Se a minha estada na Prefeitura por esses dois anos dependesse
de um plebiscito, talvez eu não tivesse dez votos.”
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