(23.04.1564 - 23.04.1616)
O Solilóquio* da solidão de Ricardo II
Não importa onde, mas que nenhum
homem me fale de consolo.
Falemos de tumbas, de vermes, de
epitáfios,
falemos de nossos testamentos.
Ou não? Pois que temos a legar
senão nossos corpos depostos
sobre o chão?
Nossas terras, nossas vidas e
tudo o mais, pertencem à morte
e nada podemos dizer que nos
pertence. Exceto a morte
e este pequeno modelo de terra
estéril
que serve de argamassa e cobre
nossos ossos.
Pelo amor de Deus, sentemo-nos no
chão
para contar histórias soturnas de
reis mortos:
como uns foram depostos, alguns
trucidados na guerra,
alguns perseguidos pelos
fantasmas que haviam destronado,
alguns envenenados pelas
companheiras, alguns mortos dormindo,
todos assassinados. Pois dentro
da coroa oca
que cinge a têmpora mortal de um
rei,
a morte mantém a sua corte, e
fica lá, grotesca,
zombando do poder, sorrindo à sua
pompa,
permitindo ao rei um fôlego, uma
pequena cena,
na qual pode monarquizar, ser
temido, matar com um olhar
e se encher de orgulho enorme e
inútil.
E quando o vê assim, acomodado,
ela atravessa o muro do castelo
com um alfinete mínimo,
e adeus, Rei!
Cobri vossas cabeças, e não
zombai da carne e do sangue,
tratando-os com solene
reverência.
Fora do respeito,
a tradição, a forma, o dever da
cerimônia!
Eu me alimento de pão, como vós
outros, sinto necessidades,
provo a angústia, preciso de
amigos. Assim enclausurado,
como podeis dizer a mim que eu
sou um rei?
Solilóquio de MacBeth
(Talvez o trecho mais
famosos de todas a literatura teatral)
Amanhã, e amanhã, e amanhã,
chegando no passo impressentido de um dia após um dia,
até a última sílaba do tempo registrado.
E cada dia de ontem
iluminou, aos tolos que nós somos,
o caminho para o pó da morte.
Apagai-vos, vela tão pequena!
A vida é apenas uma sombra que caminha, um pobre ator
que gagueja e vacila a sua hora sobre o palco
cheia de som e fúria,
chegando no passo impressentido de um dia após um dia,
até a última sílaba do tempo registrado.
E cada dia de ontem
iluminou, aos tolos que nós somos,
o caminho para o pó da morte.
Apagai-vos, vela tão pequena!
A vida é apenas uma sombra que caminha, um pobre ator
que gagueja e vacila a sua hora sobre o palco
e, depois, nunca mais se ouve.
É uma história contada por um idiota,
significando nada.
* Fala de alguém consigo mesmo; monólogo.
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