O coronel
perguntou ao novo recruta:
– O senhor faz o quê na
vida civil?
– Bom, coronel. Eu sempre
fui glubador.
– Glubador?
– É. O senhor, como homem
instruído, sabe naturalmente o que é um glubador.
– Claro, claro! Glubador! – respondeu o coronel, que não era homem de se dar por achado.
– E
como glubador você naturalmente faz... faz...
– Glubeiras, não é,
coronel? Eu faço glubeiras.
– Evidentemente! Glubeiras!
Já fez alguma glubeira aqui pro meu quartel? - perguntou o coronel, disfarçando
a sua ignorância.
– Como,
se nunca me deram material para construir uma? - respondeu o soldado.
– Mas isso é um absurdo!
Então eu tenho um glubador no regimento e ele ainda não fez nenhuma glubeira?
Eu lhe dou carta branca para fazer uma imediatamente. Na sua opinião, o material
ideal para se fazer uma glubeira seria... seria...?
– É lógico que o senhor
sabe que uma boa glubeira se faz de alumínio. Fica meio caro, mas o senhor tem
uma glubeira pra toda vida.
– O custo não importa! Eu quero que
você comece a fazer uma glubeira de alumínio amanhã! – disse o diretor.
– Pois
não, coronel. De que tamanho? – perguntou o soldado.
– Não sei. O especialista é
você.
– Bom, depende do gosto.
Pra mim, uma glubeira profissional deve ter 5,30m de comprimento por 3,52m de
largura e 15cm de espessura. Isso se o senhor quiser uma glubeira clássica – explicou o soldado.
– É claro que eu quero uma
glubeira clássica! Nada de modernismos! – falou o coronel muito
senhor de si.
Uma semana depois, o soldado-glubador
dava os últimos retoques na chapa de alumínio. Curioso, o coronel foi ver como
andava sua glubeira. Ao chegar, viu a chapa toda perfurada com orifícios que
iam de 10 a
15cm. Quase enlouqueceu:
– Quem
foi que furou a minha glubeira?!!
– Fui eu, é claro, coronel.
Sem os respiros ela não funciona - afirmou o glubador.
– Muito bem! Muito bem! Só
estava vendo se o senhor conhece mesmo o seu serviço! – disfarçou o coronel. - E
onde é que nós vamos usar essa maravilhosa glubeira?
– Num
lago ou num rio, é claro.
Assim transportaram a glubeira até a
beira de um lago e lá ela foi lançada na água pelo glubador, afundando no lago
a seguir. O coronel ficou louco.
– O que é isso?! Então eu
gasto uma fortuna para fazer uma glubeira e você joga a minha glubeira na água!
Louco!! Você vai preso!!
– O coronel me desculpe,
coronel, mas pelo visto parece que o senhor não sabe o que é uma glubeira -
disse o soldado-glubador.
– Não sei mesmo! Mas agora
você vai me explicar! - desabafou o coronel.
O glubador elucidou-o
calmamente:
– Pois então o senhor não
viu que a glubeira funciona exatamente quando afunda? Só aí é que ela faz:
GLUB… GLUB… GLUB… GLUB…
(Do livro “Astronauta
sem Regime”, de Jô Soares)
Nenhum comentário:
Postar um comentário