quarta-feira, 30 de abril de 2014

Noblesse oblige

(A nobreza manda.)

Millôr Fernandes


No incêndio do apartamento grã-fino não se esqueça do Copo de Bombeiros: use sempre a entrada de serviço.

Querido, querido – gritava a esposinha grã-finíssima voltando do ginecologista –, uma bela surpresa pra você: temos que comprar uma cobertura com mais um quarto.

Na caricatura famosa de Steinberg, o homem que se afoga e grita: “Au secours! Au secours! Savez moi! Se não é francês, é o maior esnobe do mundo.

Outro cúmulo do esnobismo é ir ao autódromo levando chofer.

Para comer perdiz o verdadeiro esnobismo é usar traje de caça.

No campo de polo, o homem do Chicabon não entra. Quem passa é sempre um mordomo de libré, gritando: “Crèpre Suzete! Crèpre Suzete! Quem vai querer?”

E o novo-rico chamou o secretário e ordenou: “Gabriel, sinto que vou ficar gripado – saia imediatamente e compre-me um hospital.”

A senhora grã-fina, que se diverte com a jardinagem, gasta vidros inteiros de perfume francês para melhorar o odor dos adubos.

Para evitar ladrões, os muros das casas grã-finas devem ser protegidos com cacos de garrafas de champanha.

É célebre também é da menina grã-fina que, quando a professora mandou fazer uma composição sobre a pobreza, escreveu: “Era uma vez uma família muito pobre. O pai era pobre. A mãe era pobre. O mordomo era pobre. E todos os empregados eram paupérrimos.”

- Doutor, o banho está pronto.
- Tome-o por mim que estou com muita preguiça. Veja, porém, que a água não esteja muito quente.

Grã-fina mesmo, porém, era a marquesa italiana. Mantinha sempre a fonte erguida que, em toda sua vida, jamais soube com quem estava falando.

Na piada de Nássara, o nobre, quando o mordomo lhe diz: “Senhor barão, parece que vamos ter chuva”, não perde a oportunidade de pôr os pontos nos is: “Meu caro, Johnson, vamos ter chuva, não senhor! Você terá a sua e eu terei a minha!”

Afogavam-se os dois grã-finos. Ele começou a berrar de tal maneira que o sangue azul subiu às nobres faces da esposa e esta censurou: “Didu, pelo amor de Deus, não grite tão alto, senão todo mundo vai ouvir!”

(O Pasquim – Antologia – Volume II -1972-1973)




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