sexta-feira, 25 de abril de 2014

Magia - uma crônica natalina


          Comecei a entender a magia do Natal, lá pelos meus nove anos. Não que eu não soubesse da fantasia, da atmosfera com que se reveste tudo em torno do Natal, é que, com essa idade, eu entendi que natal, para uma criança, é o presente que se ganha ao acordar; é o que se espera, com ansiedade, encontrar embaixo da cama ou na árvore enfeitada no dia de Natal.

         Em virtude de eu ser filho de um modesto funcionário público, desde cedo eu entendi as dificuldades da compra de um presente. Geralmente, nos natais, meu pai me presenteava com coisas práticas: um sapato novo, uma calça ou uma camisa. Mas, naquele Natal, aconteceu-me algo diferente. Fui dormir sem nenhuma perspectiva. Sabia que no outro dia seria dia de natal. A mesa estaria mais farta, ganharia, talvez, uma roupa nova, ou um carrinho qualquer. No outro dia, algo fantástico aconteceu. Lá estava ela com o meu nome: uma linda bola de couro número 5. Não sei quem a comprou, mas era para mim, e só quem já foi moleque de bairro sabe o que representa uma bola número 5. Ela representa, para um garoto, o maior sonho. Significa ter o mundo a seus pés. Significa ser o dono do time. Jogar em qualquer posição. Ser escalado, começar e terminar uma partida, mesmo sendo um perna-de-pau.

          Dormi abraçado àquela bola. Não deixava que caísse no chão. Passava sebo nas costuras para que ela não se estragasse. Ela era a minha bola. O meu melhor presente de Natal.

         Hoje, adulto, já tive excelentes natais. Aburguesei-me e posso comprar toda a felicidade que o dinheiro pode proporcionar, mas nada é igual. Recebo presentes, dou bons presentes, mas não há magia. Nada, nem de longe, tem aquela alegria e aquela felicidade que uma bola de couro número cinco me proporcionou naquele distante Natal dos meus tenros nove anos.

Nilo da Silva Moraes



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